domingo, 2 de maio de 2010

città piu bella

por que é tão comum pessoas inteligentes ficarem cínicas? é uma estratégia de defesa nefasta. procurei esses dias no dicionário essa última palavra e é como a vez que sonhei "gosta de trepar com lápides", mas piorado. mas é sério: inteligência é um muito de saber fazer baliza, contrabalancear, ver os lados das questões, bambolê, como o tal do pássaro voando por entre as árvores e que não bate com o bico em nenhuma delas. e descobre sempre um novo-mesmo caminho. mas um cínico assina: "dessa árvore conheço tanto que nem tocarei na casca." é um horror, porque fica uma gente inexperimentada. e fútil.

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o breno pediu pra eu não antecipar mais os poemas do novo livro no blogue!... e ele tem razão. o breno é muito meu amigo.

mas verso pode antecipar?

"descalcificar a cidade"

ainda não sei onde vou usar. mas percebi que minha noção da relação cidade-claustrofobia mudou completamente desde que vivo em Lisboa. sinto isso aqui, sim, também sentia (mais) em São Paulo. mas: veja bem: em São Paulo era rangente e urgente berrar contra contra. é uma cidade em ebulição que te ferve junto a mão. aqui tá tudo mais arruinado, mas é bonito e mais pacífico. tem uma música do Deolinda que ela canta

que a saudade
mais que um crime
é um castigo
e prisão por prisão
temos Lisboa

.

é por aí, até quando, não sei.
mas eu acho que meu verso ainda não usado tem mais haver é com isso aqui:




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no mais, voltando ao cinismo, lembrei da personagem da psiquiatra no Persona que diz para a atriz interpretada pela Liv Ullmann e sua crise de silêncio, que na vida não há separação entre parecer/encenação e ser/realização.

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e uma frase do Deleuze, diz algo como que a potência da modernidade é a produção de simulacros.

2 comentários:

bernardo rb disse...

lembrei d'Um Falcão no Punho, nesse e noutros posts seus -

[...]
à tarde:
no ano passado entrei numa dessas lojas onde se vendem louças e quinquilharias e da conversa com a dona da casa resultou a promessa de khe trazer da Bélgica um gato branco.
Este ano para comprar os tecidos para a Josée, entrei numa outra loja do Calhariz e tive com a senhora que me atendeu uma conversa no tom de emigrante. Como, nas relações com as pessoas, quase sempre a minha personalidade fundamental as incomoda, e me incomoda, finjo que sou o que elas julgam que eu sou, e deixo-as supor que há uma verdadeira identificação com este aspecto ligeiro que tenho; quem poderia eu ser senão a minha imagem aparente?

_________ ainda não me arranquei de Lisboa.Faço a pé este percurso Estrela-Camões, sou um veículo, transporto sempre uma viagem que é inexequível. Causa-me prazer esse passeio votivo feito, primeiro por um declive, depois através do acto de subir até à rua Luz Soriano. É a zona das oficinas tipográficas, e eu sei que aquele prazer, talvez conseguido três vezes por ano, está implícito na minha perspectiva de Herbais.
[...]

júlia disse...

obrigada, TTT. e eu fiquei agora pensando imagina se um dia vão tratar de inventar poemas de auto-ajuda e boas imagens de incentivo e salvação de Maria Gabriela Llansol como fazem com a Clarice Lispector?

 

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