quinta-feira, 14 de outubro de 2010

farewell

desconfio que a senhora que mora aqui em frente, morreu. então, a senhora que morava aqui em frente. dias atrás quando fui estender roupa reparei que as plantas que ela sempre rega no canteirinho na janela pendurado estavam secas. depois os pombos que ela alimenta começaram a não aparecer entre os fios do estendal. ontem saí pra comprar um chocolate no meio da tarde de (tentativa) trabalho e as portas da casa dela estavam absolutamente escancaradas, com os objetos agrupados em grupos de similares (garrafas com garrafas, papéis com papéis, louças com louças) e duas mulheres gritando lá dentro com dois pedreiros ucranianos que vi subindo as escadas mais cedo.

toda vez que eu a encontrava nas escadas do nosso 3o andar (e lembro de uma vez encontrá-la saindo de casa, desci, fui até o banco e quando voltei ela tinha alcançado a porta de saída) ela (de quem nunca soube, infelizmente, o nome) conversava animadamente comigo, sobre qualquer coisa que encontrasse. no geral um modo de reclamar da velhice de maneira bem humorada. e ria me contando "quantos? adivinhas? 94 anos!" .  ficou tão feliz quando percebeu que eu comecei a namorar e quando nos encontrava juntos é que mais falava. e de repente exclamava "oh my god!" ou "what a shame!". era inglesa, minha adorável vizinha cheia de humor e ternura. god bless her soul!



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