segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

I

pelo lado norte vem o cortante vento do mar
o dia acaba de se agasalhar no musgo das acácias
fico imóvel
atento ao estalar nocturno das madeiras

a roupa foi deixada em cima da cadeira
cobre-se de penumbras... a casa treme
com a explosão da pedreira

viro-me para a terra alegre dos sonhos
invento uma lua invento um inverno só pra mim

donde chegarão aqueles barcos de sobressalto?

um dedo arde na poeira das vidraças
uma planta corrói o silêncio dos corredores
debruço-me para a velha mesa encerada
uma aranha arrasta-se sobre a folha de papel
espeto-lhe o aparo... escrevo
a crueldade das palavras que te cantam

tento acender outras imagens devoradas pelo tempo
mas estou confuso e definitivamente só

de que lado da casa rebentará o novo dia?
em que arrecadação escura sossegará o amor?

resta-me escancarar a porta da casa
e sorrir a todos os desconhecidos

[al berto, do "eras novo ainda"]

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