quinta-feira, 31 de março de 2011

uma pomba em cima do parapeito da igreja de Santa Luzia olha um eléctrico passar. é da natureza dos eléctricos, passarem, soarem a campainha e se encherem de turistas. dia desses vi uma gaja velha batendo com a bolsa num alemão e dizia PARA TRÁS PARA TRÁS, que era pra ele parar de emperrar a porta de entrada do eléctrico. o cara não entendeu nada. às vezes não há comunicação. cortam o saldo do meu telefone, eu fico sem responder pra ninguém. mas pode ter um depois. e então um senhor desceu do eléctrico com sua boina e disse "ô pá! se é pra ser assim não queremos ser Europa". como se dissesse, pra que tantos alemães, meu deus, porém meus olhos não perguntam nada.

da série problemas da primavera: não posso me guiar pelas roupas que vejo as pessoas do miradouro usando, pra saber se está frio ou calor. primeiro que há sol por lá e life could be so sweet on the sunny side of the street. depois que são gringos do norte, esses 18 graus que rompem as raízes dessas pernas brancas  e brilham de euforia os rostos já vermelhos. daí quando entro no mundo português eles também ainda estão usando lã de noite. e eu tenho que sair com protetor solar.

I could be you angel, if you'll be my lady

dia desses sonhei que ficava com uma mulher, mas isso era enroscar os pescoços, a gente não se beijava e ela era a vênus do Botticelli só que inteira vestida de preto. daí chegava um ex-namorado me pedindo algo pra beber eu arranjava um resto de guaraná quente numa garrafinha de 600ml. e a vênus em cima da estante eu fingia que nem via mais.

na manhã seguinte acordei e furei a cabeça no armário da cozinha. foi ontem, sangrou. essa noite então não conseguia encostar completamente a cabeça no travesseiro, porque além do furo tem um galo. um dos meus horóscopos dizendo pra tomar cuidado com acidentes. pra que tomar cuidado com acidentes.

hoje de noite vamos ao teatro. fechada, não, estou destinada ao balanço. anjos não sangram, nem batem de leve.

quinta-feira, 24 de março de 2011

dos amores que a vida me trouxe e eu não pude viver

[acontece algo antes] sonhei que tinha deixado uma bicicleta nova e branca embaixo de uma árvore num terreno meio baldio, umas ruas pra cima de casa. havia uma festa no terreno vizinho ao do duda, eu estava lá com meu irmão, tínhamos um cachorro preto que era cuidado por uma menina que tinha se apropriado dele. então a menina resolvia ir embora e eu agradava a barriga do cachorro que tinha um lenço vermelho amarrado no pescoço. tentei muitas vezes ir até a bicicleta pra recuperá-la, mas em todas as vezes virava noite no meio do caminho, ou chovia, e eu cada vez mais desestimulada, meu pai inclusive dizia, que sem dúvida a bicicleta já teria sido roubada.

terça-feira, 22 de março de 2011

enquanto você se esforça pra ser

sempre podendo menos, precavendo mais, esquecendo rápido. fazendo o mais certo. tudo pra você do seu jeito, do seu ritmo, do seu modo. há um jeito de ser seu em você que não passa por mim. me lembra que tudo é assim? você sabe que eu vi o futuro um dia seu corpo vai explodir. e eu vou estar vendo o ritmo de tudo, inclusive o seu, com a minha paciência de passar.

por outro lado ele arrota muito e não nos vimos mais.

e você me conheceu tarde e eu não tinha tempo, embora sempre com o meu par de mãos disponíveis para o amor.

seus ingratos.

(não é verdade)

segunda-feira, 21 de março de 2011

changing blues

quando eu era criança, adolescente,
quando eu era; viajava, ficava doente
mas só quando chegava em casa.

cheguei em Lisboa, fiquei gripada
ontem
ainda não sabia onde casa é, era
agora esse edredon, lenço de papel,
minha garganta não me deixa mentir.

*
é estranho, como ser de papel, amassar-se, recomeçar o rascunho em branco. ou há algo em grafite. manchado, liso, o que a vida revigora em seu desenho nunca terminado. fico pensando numa ciranda fundamental que mais parece o rodamoinho do olho de um furacão. e Lisboa não me deixa mentir na delicadeza. ter estrutura na delicadeza, não me entregar ao controle que só não pode cair. capoeira que é bom, não cai. e se um dia ele cai, cai bem. são 03h02 da manhã, eu voltei a escrever porque tive que parar com. não sei se amanhã será dia de febre, dia de encontro, não sei se amanhã. mas algo em mim não volta, não foi nunca embora. e sofre se ilumina dessa Lisboa que vem de antes, de muito antes da gente (a cidade sou eu, meu amor) se encontrar.

domingo, 20 de março de 2011

são paulo é a nova bahia. não precisa ter medo de dizer. no fundo eu sou bicha, gaúcha. vivem em mil oito novos seres em mim. as bactérias vão rolar. no rala do rolo do rodo a razão do rei da rua. beija o céu, o mar por baixo, avisa que eu tô voltando.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Precisaria trabalhar – afundar –
- como você – saudades loucas –
nesta arte – ininterrupta –
de pintar –
A poesia não – telegráfica – ocasional –
me deixa sola – solta
à merce do impossível –
- do real.
 
ana c.

#

Eu me aperto até o osso
descubro envolvo louvo
o novo e encerro o
carnaval não, deixa sangrar.
Minhas cólicas, aftas
os vírus da gripe que me rondam
ccccicuta, nada disso
entra na minha estufa.
Gravidez, gravidade, sim.

- - -

herberto, porque te apresentas com esse terno fátuo em direção ao fogo?


uma coisa que eu ainda gostaria de ver antes de morrer
era o milton nascimento musicando um poema do herberto helder

era o fogo encontrando a água
era uma águia.

herberto coitado com o fogo
helder espantado e a menstruação.

e o milton um deus desses que desce
e anda por aí, por volta de uns lagos.

domingo, 6 de março de 2011

espécie

n substantivo feminino
1    característica comum que serve para dividir os seres em grupos; qualidade, natureza, gênero
Ex.: materiais e objetos da mesma e.
2    cada grupo assim dividido
Ex.: que e. de alunos vocês têm?
3    caso particular de algo genérico; variedade, tipo, sorte
Ex.:
4    condição, classe ou origem social; tipo, jeito
Ex.: gente de toda e.
5    dissimulação, disfarce
6    Rubrica: bibliologia.
denominação comum às entidades bibliológicas (p.ex., livro impresso, manuscrito etc.)
7    Rubrica: biologia.
categoria taxonômica abaixo do gênero, cujos indivíduos são morfologicamente semelhantes entre si e com seus progenitores e se entrecruzam gerando descendentes férteis
8    Rubrica: culinária.
m.q. especiaria
9    Rubrica: economia. Diacronismo: antigo.
moeda metálica
10    Rubrica: farmacologia.
mistura de plantas (ou de partes das mesmas), secas ou não, que por processos de decocção, infusão, maceração etc. integram diversas composições farmacêuticas
11    log no aristotelismo, qualquer classe de indivíduos com propriedades em comum, considerada uma subdivisão de uma classe ainda mais ampla, o gênero [A relação aristotélica entre gênero e espécie está na origem da taxonomia científica moderna.]
ª espécies
n substantivo feminino plural
12    dinheiro corrente, moeda sonante

sábado, 5 de março de 2011

sonhei com um navio, um avião, meu irmão. estávamos para embarcar. mais nada.

terça-feira, 1 de março de 2011

sonho de ontem

sonhei com olhar o céu noturno cheio de estrelas e estrelas cadentes cintilantes
muito escuro o céu cheio de estrelas e eu olhava e olhava
 

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