sábado, 30 de abril de 2011

making bread, a new beginning

se eu já escrevi um túnel
agora
eu vou eu vou eu vou eu vou eu vou?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

com as mãos frias mas o coração queimando

O tempo fecha.
Sou fiel aos acontecimentos biográficos.
Mais do que fiel, ah, tão presa! Esses mosquitos que
não largam! Minhas saudades ensurdecidas por
cigarras! O que faço aqui no campo declamando aos
metros versos longos e sentidos? Ah que estou
sentida e portuguesa, e agora não sou mais veja, não
sou mais severa e ríspida: – agora sou profissional.

[my darling beauty, ana cristina cesar]

segunda-feira, 25 de abril de 2011

assim, não

ai gente "as questões do autor" ontem de manhã eram: comprar 4 kilos de farinha de rosca. ele ia segurando o colchão de cima abaixo com os sacos até que na hora de dormir ele furava-os todos e a farinha espalhafatosa pelo chão. o quarto ficava todo um véu. tua vida um breu sem "o autor", viu? é ele que tá te inventando quando você lê isto, não o contrário.  - - - - - - - - - - - - a operação de ler está nos seus olhos, sim, xuxu. eu tava brincando. não fica assim.

dá-me delicadeza na fúria

estou meio cega pelo espelho
se calhar precisava estudar física
ou eu levo as coisas muito à sério
(são piscinas, as coisas)

.

meu pai sempre diz "a gente se mete em cada África".

-

se eles soubessem os códigos de conduta que essas coisas me ensinaram.

domingo, 24 de abril de 2011

nossa o que eu mais queria era uma fúria de poemas - mas são os livros ao redor que estão me corrompendo pra dentro deles não sei como conseguirei resistir

a coisa que eu acho mais difícil de fazer é ler (verdade).

e estarei me viciando como todos os outros? e se o que todos esses livros ao redor querem é me fazer calar?

amanhã por exemplo: vou acordar tendo dormido menos pra conseguir a evasão que é escrever um texto a respeito de outro, com respeito. já sei toda a coisa que vai ser. assim faca de um lado, matão de outro, sem assassinato, só a trilha. 

"chão de sal grosso, e ouro que se racha".

e escrevi algo mais bonito sobre isso no facebook do que aqui. reles blogues, mas eu vos amo mais.
mais uma vez chegaste
mais uma experiência mística
mais uma vez no centro do coração de tudo
mais uma vez isto significa só o que significa
mais uma vez és incapaz de não deteriorar tudo o que é vivo
mais uma vez não consegues aceitar a sujeição do cotidiano em suas formas rituais
mais uma vez tens ódio de tudo o que se repete, sobretudo o coração compassado

mais uma vez desconfias de tudo o que seja dele, do que seja seu, mais uma vez desconfias do amor
mais uma vez não estás, minto, mais uma vez estás justamente aqui, quem falou.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

sexta-feira da paixão e eu pensando que se me perguntassem se acredito em deus eu responderia o quê?
que hoje estou cansada para pensar nisso com palavras.
strike a poet

Tiro fotos da minha casa até acreditar que é uma cidade
sigo abraçando cadeiras entre o olhar imperativo dos
gatos a mão que afaga este problema a materialidade
dos livros ajuda no colegial me chamavam de menina
de outra época meu pai dizia que minha avó era uma
mulher da terra isso resume pra mim toda a poesia
contemporânea de repente ganharam o medo de dizer
coração é preciso paciência e a sensibilidade de um peixe.

Devem me ver como um dragão rasante, os miados
num abraço a gatinha tem fome e cheiro de ser vivo
pela primeira vez em um mês deixo a sala é mais fácil o
mar abrir em dois do que interromper o trânsito é por
isso que não atravesso a rua meio-dia sou o Torquato de
colar de contas descendo as delícias de aves nas mãos ela
pensa em casamento no sol de quase dezembro uma mãe
me olha saindo pelo corredor

até o portãozinho de aço range a filha vai pra escola
a mala de rodinha, vergonha não é a palavra
finalmente, virei artista os dedos sujos de tinta
e o uniforme azul-marinho o cabelo imundo embora
a seda tenha rasgado só consigo desafinar o coro dos
contentes me alimentar com drogas pra me manter
escrevendo acordada e cansada e insuficiente esta melodia
chega o texto ao fim e não reviso, it’s friday I’m in love.
 

sexta-feira da paixão

agora que estou escrevendo 
decorei um salteado de frango
(é hoje que não se come carne?)
a pessoa está insuspeita na tradição ocidental
conseguiu sair pelos fundos.

ando escrevendo sem títulos perco essa possibilidade de usá-los.
se bem que os poemas andam sendo verso a verso títulos de si mesmos

onde a hierarquia não existe, ana cristina. tenho amado ana cristina, vou vos contar. contei já, é isto: tenho amado ana cristina cesar com uma ternura como nunca. sei onde ela está, onde eu estou, e quando nossos amores destinos se confudem, amor, eu sou terra, fronteira. já há muito reconheci que não sei voar. e quando de um poeta começo a perceber os procedimentos, tenho o caminho de toda a poesia. (só não descobri ainda os procedimentos do que escrevo, além de ser celeste, bang bang pistoleira do destino sempre revirarevolto)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

hoje que ninguém se aproxime, estou impossível.
cheirando a amor do passado, estou mofada pelo que perdi.

("e também, desde que li o artaud na 6a feira passada, tô escrevendo um texto novo que não sei bem ainda o que é, mas acho que responde a essa fúria que ele tem, que temos em nós. ou a cria, não sei, feito o mar.")

hoje nem a infalível técnica do me meter entre turistas pra estudar funcionar, funcionou. embora a praça da figueira vista da janela da confeitaria nacional me remeta a uma impossível teodoro sampaio de que o álvaro de campos fala

A Praça da Figueira de manhã,
Quando o dia é de sol (como acontece
Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece,
Embora seja uma memória vã.

Há tanta coisa mais interessante
Que aquele lugar lógico e plebeu,
Mas amo aquilo, mesmo aqui... Sei eu
Por que o amo? Não importa. Adiante...

Isto de sensações só vale a pena
Se a gente se não põe a olhar para elas.
Nenhuma delas em mim serena...

De resto, nada em mim é certo e está
De acordo comigo próprio. As horas belas
São as dos outros ou as que não há.


-
safado.

hoje em dia há flores de plástico na sacada da confeitaria nacional. será que ele as viu?

terça-feira, 19 de abril de 2011

psicostasia

Psicostasia é o nome atribuído a uma cena comum representada no Livro dos Mortos que retrata a cerimónia de pesagem do coração do defunto no tribunal da deusa Maat.

De acordo com as crenças dos habitantes do Antigo Egipto, a morte física não era o fim da existência, existindo a possibilidade de uma vida no Além. Historicamente esta vida no Além esteve de início reservada ao rei, tendo a partir do Império Médio se alargado a toda a população. Contudo, para se poder aceder a esta vida era necessário ter levado uma vida de acordo com a Maet (ou Maat), conceito egípcio que traduz a ideia da ordem universal marcada pela justiça e pela harmonia.

A pesagem do coração acontecia na sala das Duas Maet (também designada como sala Duas Verdades ou sala das Duas Justiças), onde existia uma grande balança colocada num pedestal em cujo topo se encontrava um babuíno. Na sala estavam presentes Osíris, sentado no trono, e quarenta e dois juízes.

O defunto deveria realizar uma confissão - a chamada "confissão negativa", registada no capítulo 125 do Livro dos Mortos - através da qual atestava que não tinha praticado o homicídio, cometido o adultério, maltratado animais, praticado o roubo, etc., num total de quarenta e duas declarações de inocência que anunciava a cada um dos juízes.

Enquanto isso, o coração era colocado num dos pratos uma pena de avestruz (a representação da leveza ou do coração da deusa Maat) colocada no outro prato. Se os dois pratos se equilibram o defunto está absolvido; em caso de ter mentido, o coração tornava-se pesado e seria condenado.

Os deuses Anúbis e Tot também estavam presentes sala cumprindo cada um com uma função. Anúbis regulava a balança, enquanto que Tot escrevia o resultado. Perto da balança encontra-se um monstro híbrido (metade crocodilo, metade pantera e metade hipopótamo), conhecido como Ammit ou a Grande Devoradora, pronto para engolir o coração do defunto caso este tivesse um peso excessivo. Uma vez aniquilado o coração não existiria a possibilidade de ressurreição.

admiração e morte

teve uma vez que fui a um jantar e conversei com a alice ruiz cerca de uma hora e meia só nós duas, sem saber que era a alice ruiz com quem eu estava conversando. fiquei muito impressionada de como a (só) alice entendia de poesia e de astrologia. (ai como eu sou pirralha). então eu contei pra ela um aspecto x que tenho no meu mapa natal (e que vou preservar da astrologia blogueira, mas por e-mail eu conto tudo, pode até publicar depois) e ela disse "nossa, enquanto você dorme você deve morrer todas as noites. então você acorda de manhã absolutamente perdida ou revigorada." como é que eu não lembro disso todo dia ao levantar? - - - e depois chegou um amigo meu, astrólogo, e quando ele olhou pra ela praticamente ajoelhou e disse "ALICE ADMIRO TANTO VOCÊ, tanto como poeta como como astróloga." daí eu saquei tudo quem ela era e não consegui mais conversar.

não se trata de gratidão

eu acordava muito cedo, entre às 5h e às 6h, porque precisava tomar banho antes de sair, até hoje, é a água a hora que acordo. a aula começava às 7h20, na USP. eu tinha onze, doze anos. entrava no chuveiro muito quente e no fim abria a água muito gelada, ficava uns segundos por baixo, saltava, os gritos por dentro. meus pais nunca me levaram na escola enquanto foi cedo. ou eu tinha carona, ou tinha meu irmão, ou tivemos uns meses o motorista da minha avó. de todos os modos muitas vezes eu ficava pronta antes da hora (engraçado, não é de hoje meu controle) e então esperava dentro de um dos carros da garagem, ouvindo uma k7, num walkman no máximo volume, ou quando tinha rádio no carro (mas isto talvez fosse mais tarde, aos 17?) no talo. a música que mais me lembro de escutar nesse momento é "quase sem querer", legião urbana. 


tenho andado distraído impaciente e indeciso e ainda estou confuso só que agora é diferente estou tão confuso e tão contente -. -; -,-

segunda-feira, 18 de abril de 2011

perdida feito o urubu quando chega o caminhão e despeja a fartura sobre o aterro

domingo, 17 de abril de 2011

"Talvez eu tenha nascido de corpo atormentado, prestidigitado como a montanha imensa; mas corpo de úteis obsessões: e a obsessão de contar bem vi na montanha para que serve. Nem uma sombra deixei de contar, quando a sentia em rotação à volta de qualquer coisa; e a somar é que ascendi muitas vezes a estranhas moradas." 

Artaud, "A montanha dos sinais"

sábado, 16 de abril de 2011

certamente estou me escapando. há uma música tocando
ah o coração como uma carne crua
não sei mais, eu não sei mais, só sei mais escrever

o que significa: se eu tivesse: uma vareta entre os dedos e a terra inteira nos meus pés escrevia no chão que palavra?

escrevia: é isto.

(que você não está vendo)
(está marcado em nós)
(não é?)

então alguém chegava e me perguntava: júlia, mas isto é o quê?

eu ia responder: sim e não. depende.

não, eu não estou apaixonada. inclusive faz algum tempo isto. embora haja sempre a chance de um desenhador atravessar o meu caminho e tudo viver de novo.

foi assim: veio o dilúvio que também era chamado de deserto e tudo acabou.
depois veio de novo o tudo e assim o inverso começou. este sopro do fundamental.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

êxodo

todo dia tem uma hora que eu saio como quem se despede dos próprios pensamentos, é um alívio como quando se toma um banho, ou acordo de bem dormir. como se o pensamento às vezes só tivesse calma mesmo no exterior. é um sair pra nada em que encontro tanto.

e os turistas, as pessoas andando na rua, as vozes e as cores me lembram que estou em Lisboa. eu quis tanto estar aqui, que quando noto que estou mesmo, fico tão contente, como se eu tivesse sorte mesmo.

ainda não entendi porque eu quis tanto, porque continuo gostando tanto, mas hoje de manhã ouvi muito uma música do Fausto, "o barco vai de saída", que tem um verso "que vida boa era a de Lisboa" e quis gritar pra todos, cantar pra todos, viver pra todos com todos, mas nem o B estava em casa. daí a tarde veio vindo, veio vindo, e minha felicidade me dispersou.

e agora estou tensa como um limão velho.

terça-feira, 12 de abril de 2011

recortado

sonhei que eu vivia numa caverna. mas não sei o quanto inventei isto ao acordar. estou re-aprendendo a usar isso e isto, mas aquilo eu já sei. este e esse não sei. lá vem conselho coisa e tal. cheia de árvores, a minha caverna. tinha uma amiga comigo, era a Penelope, eu acho. daí tinha um momento em que passavamos em frente aos prédios em Perdizes e eu dizia "ainda quero voltar a morar nesse apartamento", "minha casa", eu dizia. daí acordei meditando nisso, meio pensando "são paulo, não, são paulo, não". mas se tivesse como transportar aquela casa em qualquer lugar eu ia viver. não que eu esteja mal aqui. bem o contrário. mas a transitoriedade das coisas lineares, jugulares. cada vez mais interessada em "tempo" em "história". mas não aceitamos avisos virtuais, não. e tudo trata somente disto.

sábado, 9 de abril de 2011

foi ótimo mostrar fragilidade, sabe? no melhor estilo e me fingir de burro/ pra você sobressair

SINCERAMENTE a repetição não me interessa enquanto fantasma. 
estou maravilhosamente desgraçada com um poema que há dias não fica pronto. depois de três feitos em poucas horas a sensação é de AHÁ! que será que eu fiz daquela vez que dessa vez não se fez? os alimentos, os sopros, as horas de sono, um corpo que escreve. e que escrever é criar um outro corpo que, eu juro, faz basicamente o que quer. mas precisa de você. e nesta hora te dou carinho. 

rojo

cansada de perseguir, desisti. acordei cansada, queria que tivessem azeitado meus ossos. pensei em perguntar no facebook se alguém conhece um sistema pra azeitar os ossos e imaginei tanta resposta engraçadinha dizendo 'sexo' e eles teriam razão, então desisti.

não desisti e comprei um cravo vermelho e costurei na camiseta vermelha. hoje tem festa da cor! é pra ir vestido de uma cor só.

hoje me comprovaram de que o amor existe, mas não foi comigo que aconteceu, mas eu fiquei muito feliz. talvez até mais feliz do que se fosse comigo, porque se fosse comigo eu estaria com medinho também.

tenho dois olhos, uma infinidade de veias, nem me fale nas artérias! mas o que eu quero mesmo é este coração.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ando muito feliz, sabe? acho que nem estou acostumada com uma felicidade tão gratuita (porque realmente não tem nada demais acontecendo) e às vezes me apavoro.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

o vento vivo do Tejo

hoje voltei a patinar. receio de começo, desviando com o pé por dentro a bota mal fechada, pelo tempo os fechos secaram até destruirem-se e de nada existirem. mas é voar, dançar com o vento, o deslizamento do tempo, o caminho que me lembra e amanhece na memória, estou pra chegar aos quinze anos, de volta. e poder escolher certas coisas. ontem percebi que diria pra ele,o "ele" dos meus quinze anos ESCUTA AQUI CARA VOCÊ ACHA QUE ESTÁ FAZENDO O QUÊ LIDANDO COM QUEM VOCÊ PENSA QUE É? mas isso só se desse pra voltar no tempo. agora meus joelhos doem um pouco, talvez seja a idade que me faça perceber, mas na época já doía.   na época quando eu olhava as estrelas do céu de um clube com o qual tenho sonhado, e que ficava a 500 metros da minha casa, com a qual não tenho sonhado, mas com as redondezas, talvez doesse já, mas eu só pensava no prazer do gatorade, e quando olhava as estrelas elas não eram bonitas como hoje são. e cintilando de jeito de não quebrar os joelhos nem os tornozelos mas sucumbir ao risco da velocidade e pensando em toda a tarde que passei lendo octávio paz e vivendo pela imaginação de um ou quatro amores que não tenho como tudo é vento entre os dentes que não corta, é primavera, michel foucault era um gênio, e pretendo voltar a patinar toda essa primavera e todo o verão, até que as chuvadas me impeçam e eu pense de volta como era bom, como era bom e, mais uma vez, atente pra esperar. que escrever, amar, viver, patinar, tudo isso é (e junto) (e comer e beber e ler e amigar e ouvir), o que importa. e de algum jeito achei um pássaro, meu muito vivo pássaro, que já há alguns anos se desvia por entre as árvores.

sábado, 2 de abril de 2011

É importante acordar
a tempo

é importante penetrar
o tempo

é importante vigiar
o desabrochar do destino.

Orides Fontela

sexta-feira, 1 de abril de 2011

não é preciso/ nem avião/ eu vôo mesmo/ aqui no chão

se eu consigo escrever de um jeito que se entende (é essa das minhas maiores felicidades, recentemente) posso até soltar pra ser incompreensível e isso retorna em: liberdade. um movimento pelo retorno das palavras têm se processado em mim. não vou ser cruel comigo mesma, não estou nem ligando pras tachinhas que você carrega nas têmporas e quando sentas, mon dieu, haja osso pra agüentar a bunda.

de todo modo a tensão do lado direito continua constrangendo nossos movimentos. é uma solidificação do braço (infinito em sua vontade de alcançar, mexer no rato e escrever), um movimento de rupestreamento. 

do latim "treinamento", conjugado com "esquecimento tão atípico em seu respirar que simples silêncio". 

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pra você, que eu não sei quem é, que escreveu que eu escrevo com ternura e alma azul: muito obrigada.
 

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