sábado, 30 de julho de 2011

gratuita

e este país que tem me criado uma tímida? - lembro da criança que eu era, sempre atrás das pernas dos meus pais ou do meu irmão, queria pedir desculpas por existir. 

hoje tanta coisa é só um ENTER, e adeus timidez, barquinhos dos des-acontecidos. eu quero a guarda costeira a me dizer adeus de boas-sortes, que trago em mim o farol dessa euforia sem motivo, dessa euforia ainda tão tímida, por este verão incendiada de sem porquê esta felicidade, onde o medo é pra ser instinto só, puro de ser uma sombra que acompanha o cuidado, e só, que

esta felicidade vai tomar banho para o casamento

quinta-feira, 28 de julho de 2011

hoje quinta-feira é meu domingo

há tanta gente para ver e aproximar o umbigo
mas hoje nem que seja por incêndio me chamam de casa.

talvez daqui 25 anos apareça alguém que entenda completamente
que o vento que roseta a dispersão da roupa

porque parece que gira por acaso, num varal meu lençol
mas eu sei que é mentira que ele gira perfeito só que prolixo
como todo acaso: perfeito só que prolixo.

preferiram os envergonhados o silêncio das roupas num varal
ou também os avaros dizer duas vezes, não mais.
eu talvez me meta em polêmicas maiores na próxima década
ou já estamos nela?

sei que é preciso correr em direção daquilo, daqueles 
que me contam que viver é um risco, afirmativo 
e as saudades que eu tenho do marcos.

o importante é saber não escrever e notar o vento nas roupas de ninguém.
falar com as roupas e com os cavalos e de vez em quando comprar um kit kat na máquina do metrô pra lembrar que isto aqui é europa
também de manhã cedo ou às vezes tarde bebo meu café numa xávena em que se lê
LISBOA e um coração - como é que se lê um coração?

minha mãe está no méxico meu pai está no chile, meu irmão em conakry, o outro em taiwan.
eu leio um livro do miguel do século XVI o Itinerário do António Tenreiro, quando quero aproveitar. então lembro do Diderot, quero juntar dois séculos depois, falando de modos e costumes. esses homens que se preocupam com a etiqueta do alheio, temo todos nós nos tornarmos isto. o Ranciére diz em alguma parte que é o escritor arqueólogo o dos romances do século XIX.

a vida fica toda suando 40 graus neste fim de julho. os livros estão sempre mornos, não importa a estação. e só andam se eles nos lêem. meu pai sempre diz isso, que os grandes livros nos lêem, não o contrário. meu pai está sempre preocupado com o que é grande. meu pai, grande homem de solidão infinita, me educou para ser grega com ele. eu vejo os aviõezinhos passarem,  o manoel contou  a gente riu da constatação que são invocados, os aviões. eu os vejo voarem rasgarem e procuro o século XXI entre as roupas que ainda não lavei.

talvez esta pomba valesse o mesmo que tudo. deve ser isso que se queria dizer o meu século, e eu não entendi, e a espantei. 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

às vezes me entristeço que nem todo bom e-mail dá bom poema

obrigada por serem o senso histórico da minha geração

palpite

vou te contar que hoje
eu acordei
com o escorpião
ele me formigava de cima abaixo
sobretudo a nuca
louco pra que envenenasse
de rigor a cheia de si da lua.
e dissesse: é sem a minha permissão
que podes dançar indefinidamente
sobre a escuridão dos nossos olhos.
portanto não vacila, se atira
atravessa toda ternura e detesta
o sol, a tua órbita sem farol
e eu que aqui cega, fico que confio.
é. estou com tanto sono que entre mim e o uso
de qualquer droga (café ou fertilizante) qualquer
nada se altera.

ou isto, ou verdadeiramente comecei a sonhar.
estou hoje lúcida como quem pensou e achou e esqueceu.
ou de viver a vida inteira para conhecer um poeta.

a porta das minhas coisas não te incendeia?
a mim ela encosta de labareda na língua
e me beija, de saída.

êxito é ir partindo
do princípio que desconheço tudo.
mas que o vulcão conhece
a mesma capacidade da perfuração dos poros
da nossa pele
que se troca pelo ar das coisas

--- o que eu gostaria que todos soubessem é que o melhor é pôr fermento. 

e quem sabe que estou estudando o uso de "este" ou "esse" e também de "isto" ou "isso". algo no movimento da língua do brasil, que vai para o meio da minha língua, e que repara que lá se diz mais "isso". o que perde em ênfase, mas deixa tudo num mesmo lugar. outro dia apresentaremos também nossos avanços a respito de "cá" e "aqui"

- - - - acordo para o mundo e não sei onde ele é.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

guarda-te

posso estar por 4 horas ou mais
mas por enquanto só sei acordar tarde

percebi que a realidade existe / se existe é enquanto movimento, não durabilidade. / o nietzsche diz lá no começo que a verdade é um exército de metáforas móveis. / hoje se junta com cré. / e o problema de tudo ser ficção se embaça, que eu já nisso faz tempo que não acredito, o que me interessa é o ponto de retorno, onde (carolina me ensinou) o problema bate-e-volta. há verdade enquanto mobilidade, e eu não acredito nem nesse tempo imbecil

tempo imbecil que é verão e venta frio e pra mais do que o dinheiro a galera acredita que a natureza, poverela, é bondosa.

que destino ou maldição, minha gente, que destino ou maldição.

quem quiser participar do meu faroeste que venha e armado.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

dissertação

ou no que eu acreditava em 2011.

só assim, risco risco risco, é que vou sair deste precipício.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

tenho um grande amigo

CANÇÃO DO LAVRADOR

Meus versos lavro-os ao rubro
nesta página de terra
que abro em lábios. Descubro-
-lhe a voz que no fundo encerra

Os versos que faço sou-os
A relha rasga-me a vida
e amarra os sonhos dos voos
que eu tinha à terra ferida

Poemas que mais que escrevo
devo-te em vida. No húmus
a regos simples eu levo
os meus desvairados rumos

Mas mais que poema meu
(que eu nunca soube palavra)
isto que dispo sou eu
Poeta não escrevas lavra


ACONTECIMENTO

Aí estás tu à esquina das palavras de sempre
amor inventado numa indústria de lábios
que mordem o tempo sempre cá
E o coração acontece-nos
como uma dádiva de folhas nupciais
nos nossos ombros de outono
Caiam agora pálpebras que cerrem
o sacrifício que em nossos gestos há
de sermos diários por fora
Caiam agora que o amor chegou


REGRESSO

Não não mereço esta hora
eu que todo o dia fui habitado por tantas vozes
que exerci o comérico num mercado de palavras
Não mereço este frio este cheiro tudo isto
tão antigo como os meus olhos
talvez mesmo mais antigo que os meus olhos


[todos do Ruy Belo, do "Aquele Grande Rio Eufrates"]
quando eu olhei pra ele ele olhou pra mim e eu me declarei.
depois de dito tim tim por tim tim ele olhou pra mim e respirou e cavou um buraco.
"espera."
foi assim: buraco, buraco, buraco. entrou lá. me olhou duas ou três vezes e jogou a terra por cima.

às vezes ele sobe com uma mãozinha me acena com as ervas arrancadas desde a raiz e acaricia por entre os dedos os meus pés. dou um riso muito sério, de mulher da terra que sou, ele vê por dentro de mim a vermelhidão. 

a gente atravessa a rua e é para sempre.

domingo, 17 de julho de 2011

origem

faz 5 dias que leio e re-leio os 5 primeiros poemas do primeiro livro de poemas do Ruy Belo. volto e volto. não consigo avançar mais pelo livro, nem tento.
penso coisas pequenas.
primeiro, que dedicação é a poesia, que o entedimento é um caminho que se faz e desfaz. 
segundo, quero escrever sobre um poema dele. o poema vai ser este
 
A MULTIPLICAÇÃO DO CEDRO

O senhor deus é espectador desse homem
Encheu-lhe o regaço de dias e soprou-lhe
nos olhos o tempo suave das árvores
Deu-lhe e tirou uma por uma
cada uma das quatro estações
A primavera veio e ele árvore singular
à beira do tempo plantada
vestiu-se de palavras
E foi a folha verde que deus passou
pela terra desolada e ressequida
Quando as palavras o deixaram de cobrir
ficaram-lhe dois dos olhos por onde
o senhor olha infinitamente a sua obra
Até que as chuvas lhe molharam os olhos
e deles saíram rios que foram desaguar
ao grande mar do princípio

-

mas não sei, se escrevo já.
acho que a gente precisava se conhecer há milênios
espero que essa sorte dure até o apocalipse.

sábado, 16 de julho de 2011

talvez se você não desse tanta atenção aos fatos

me trouxeram marzipãs alemães e eles são feitos na cidade da onde veio minha bisavó, Lübeck.
a última vez que jantei fora (hamburguer) com meu pai e minha mãe em SP havia uma régua daquelas de loja promocional dentro de um copo do lado do caixa onde estava escrito ESTIMA.
isto é tudo do que posso dizer. 
talvez o que me importe agora seja farejar o caminho que me indicam, mas tentar não escrever em cima das coincidências. até pra deixar que as coisas, os fatos, surpreendam como sempre vão fazer. confiar, sobretudo, no outro que não sou eu.

D

Naquele tempo em que acordava mais cedo do que eu mesma, porque era
a aventura social do mundo, a campainha
e que nos lugares mais inexplorados alguém, de repente,
falava e recomeçava a contar a morte
fosse ela uma paciência do que vem
ou descreviam cadáveres na sala
onde o assunto era dança, falavam da putrefação
para o constrangimento geral dos vivos.
Ou meu pai dizendo o que toda semana
pensava que a função dos vivos é ir
sempre embora contra a morte

embora do eu vou me embora disso tudo
desligo o som das portas, vou abrir para o ninguém
e cogito, não o meu fim por mim levantada
já que o homem da luz me acordou
pra marcar o correr do relógio
mas a possibilidade de qualquer abrupto
mesmo meu pai, se ele lutasse tanto
que fosse contra a morte de vez
eu em luto, também, iria de encontro
como a muro cheio de musgo
pra onde o silêncio dos vivos acelera

(mas enquanto não, vou lendo ruy belo,
) e, se avalio, de tudo me adianta ir
dizendo absurdos pra sorte de quem amo
imolo a morte, avario o norte, me digo
talvez se você não desse tanta importância aos fatos
mas não me escuto o suficiente que é para não.
Pois só é forte quem sabe o que já teve de si
do oco do mundo, a revelação do negativo
se bem que a morte não é gentileza
para quem parte do sentido, do possível 
mas se - um dia - no dia - há dia -  limo a perda
como uma pedra que se atira - no quê?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

classificados

procura-se banho de mar e auxílio-viagem.

não se percebe que profissionalização quer dizer comercialização de si?

teu sonho determina:

sonhei que eu jogava rolos de papel higiênico vazios na cabeça da mãe de um melhor amigo. ela me traiu, no sonho não, e eu jogava as coisas na cara dela enquanto dizia sei sei SEEEEEI e ria, ria. tudo acontecia à beira de uma piscina, o que me faz entender, interpretando o sonho à la Freud: gente rasa que se lixe.

cansei de ser legal/ agora vou ser radical

mâno, aconteceu algo muito absurdo em pleno século XVIII
e todo mundo aí dormindo em paz
farta deste iluminismo de abajour de todos nós.

domingo, 10 de julho de 2011

amor não é tolice

ontem pela primeira vez na vida comi caracóis e participei de uma performance
acho que nunca em um ano, em ano nenhum, dormi tão pouco
ontem quando deitei pensei "que organismo inteligente, o do descanso"
vamos dizer que a cada três noites durmo uma o quanto quero, as outras o quanto devo
pelos limites que os acontecimentos ao redor vão montando
hoje é domingo - dormi cinco horas porque vamos plantar um jardim no 2o andar de um prédio.
jardim de chão direto, terra sobre lajota.
não há sono melhor do que o meu.

digo passando por alguém - não te armes em parvo, pá.

sábado, 9 de julho de 2011

a tua fotinho

sonhei que te via online no chat do facebook.
ficava tanto querendo te chamar.
mas não conseguia. 
mas era um êxtase saber-te 
vivo.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

fogo sobre montanha

como sair do nada, chegar ao nada - talvez seja isso a experiência do limite estrangeiro - e viver.

canção do exílio

I'd like to have a yellow brasília, don't you?

Tivemos uma.
Mas acho que foi a do Leon que sofreu de uns furos no tapete que um dia lhe deixaram com os pés no chão.
hoje querendo que "tracejado" queira dizer comido pelas traças.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

caí tive que começar de novo

(um pequeno passo para um homem, mas um grande passo para o caminho)

tenho toda uma estratégia de vírgulas que passa por ouvir o dentro do meu ouvido.
concha, conchinha, atravessa até coração de galinha.  
parênteses são canoas, vírgulas são conchas.
o mar é você, meu amor.




quarta-feira, 6 de julho de 2011

tenho 27 anos e sei escrever

estou certa, esses dias, dos limites mortos da minha poesia.
pensei em começar a traduzir do português para o português.
mas ainda assim seria poesia de limites
mortos da minha poesia.

quem me dera ter encontrado uma fórmula dos mortos justamente nesse momento,
estou perdendo tanta coisa, meus sobrinhos crescendo, estou perdendo tanta coisa, esta dor de músculos
taí, eu fiz tudo pra você gostar - tantas, tantas fiz

e quando eu tiver 28 anos minha maior conquista vai ser não saber escrever?

hoje escrevi um poema para a performance de um amigo, que me pediu. performance da qual vou participar no largo do camões, em frente a embaixada brasileira, no sábado. o amigo ainda não me confirmou se aceitou o poema enquanto tal ou não. não devia, mas eu vou mostrar pra vocês (como se dança o baião)


Estou certa, nestes dias, dos limites mortos.
Se sou brasileira foi porque vim pra cá.
Consegui atravessar, mas os papéis não.
Nada nunca pode vir só.

O Atlântico é uma espécie de monstro anônimo
que a tudo engole e devolve. Marinha
fronteira carcomida por salsugem,
dissolve o poder dos homens, liberta-os.

A mim também. Não é todo dia que é o que posso.
Me mostra, espero mais. Troca tudo tanto de lugar.
Não param de pedir pra que eu me identifique.
Só tenho isso. Abarco nomes, rostos. Fico viva.
o meu preferido dos poemas abaixo é o "anotação",
sobretudo porque ele me dá duas leituras sobrepostas quando imagino

uma de que o amor foi em ato consumado, e as imagens são de uma carnalidade de arrancar ouro,
ou
que esteve cada um em seu canto, sem dormir, ligados nisso,

chove, poeta, chove

NÃO MAIS

Não mais te seguirei a um palco suburbano
como num mês incerto de setenta e três
ou mais exactamente

a ninguém seguirei
seja a que lugar for com o duvidoso
e porventura inútil desígnio do amor


MARGEM DO MAR

Volto-me para ti ou antes para
o teu lugar se é que tal abstracção
é possível, noite sem
som onde tu és o eco múltiplo
procuro

ver novamente os teus vários retratos
animados pelo sol o amor ou a respiração
o sangue torna
a passar-te nos braços fotográficos
devo continuar

a narrar o percurso irregular
da tua multiplicidade
eras o ar a árvore voltar-me
para ti é como procurar
no mar os afogados


ANOTAÇÃO

Juntos dormimos ou estivemos
deitados acordados
sobre a mancha do mar
em que como dois rios confluímos


[Gastão Cruz, do "Escarpas".]

segunda-feira, 4 de julho de 2011

na casa onde cresci, sonhei

que havia um almoço muito grande de domingo, onde estavam muitas pessoas, entre elas meu pai e outro joão muito sábio discutindo a respeito das divergências que têm a respeito do século XIX - eu pensava em intervir, mas ficava por ali, andando ocupada que estava em tirar o lixo reciclável, e alguns marginais tentavam invadir o nosso jardim - um deles usava moicano vermelho, como o pica-pau - mas não eram explícitos o bastante, também, pra que eu os expulsasse e eu ficava, ali e acolá, administrando (sem interferir em) tudo que acontecia, e com o lixo reciclável pra tirar.


#

acordei e o B tava tirando o lixo reciclável.

sábado, 2 de julho de 2011

e viva julho!

faz viver este medo como a terra distancia raio e trovão. 
pra me relacionar com xxxxxxx é como se eu precisasse me fechar pra que ele me possua absolutamente. porque ele vai fazê-lo. eu soube imediatamente ao ler as primeiras páginas do nosso encontro, que aquele era dos momentos mais importantes da minha vida (sei sempre). e como se dão as coisas que são assim? foi encadeado e pouco importante, do jeito que só as coisas que importam acontecem: acontecendo.
e me salve da eficiência, rapaz.
 

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