quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

o risco do que se guarda

Primo Levi conseguiu um edredon nos últimos dia no Lager. Tomou do quarto abandonado por um SS. Décadas mais tarde, a peça de calor ainda o acompanhava, de casa em casa, pra onde ele se mudava. Quantas vezes Primo sentiu a cor e o cheiro do seu cobertor, e lembrou? Nada que eu possa explicar com minha insuficiência confortável. Só consigo pelo redor do que fascina: são três coisas: suponho que ele esquecesse até o ponto de lembrar, como em uma revelação, eu queria poder ver por dentro a imagem da sua sensação, seu sopro, som e sabor, no momento de retorno pelo objeto àquela lembrança; se ele nunca deitou fora, eu gostava de sempre ter comigo o direcionamento de interpretação que Primo fazia ao lembrar o que o edredon recordava, afinal, ele não se exilou da vivência ou a pintou com o horror do inabordável, antes fez dela uma passagem e atravessou, como quem olha, como quem toca, tecido seu e de ninguém; por fim, me impressiona como o mesmo objeto possa cobrir seres tão diversos, aquecer suas idéias, sendo elas de bem e mal, sendo sempre o mesmo, só pelo tempo corroído.

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