quinta-feira, 22 de março de 2012

corisco e concreto são irmãos

Quando passo dias assustada, só consigo me abrir para o ritmo das coisas. Para se fazer tudo finge durar para sempre. Mas aprendi com você que o ferro faz atrito por dentro do betão, se expande e espraia, a matéria tem ritmos diferentes e isto faz desarmar o concreto armado em questão de menos de um século. Somos tão modernos que incluímos o deixar de ser. Com a sua pá e as suas chaves, de nada o tempo abdica e a tudo esfarela. A sala desta conversa está a se desfazer na velocidade do que a gente não enxerga. As casas, as frutas, os livros, os olhos que você deixa pousar um instante, tudo, estudo, és tudo em transformação. Sinto o bafo do caminho e por ele tento guiar meus passos.

Faz da insegurança a sua força. O mundo não é sólido, meu bem, o edifício também. Entre eles, considero o enorme chão. Ossos na leva: areia de lava com água que lava, foi o primeiro modo de fazer concreto do mundo. Certos conhecimentos se acumulam. O fogo afinal amacia o ferro e forma a ligadura da costela. Dia a dia, serás meu e misturarás o pó dos teus ossos com o pó dos meus. Enverga comigo, para durar. A arma, amante. Dois arcos e uma flecha que assalta. Abraçamos o coração sem centro. Você diz que é de noite que o céu se mostra como é, o azul diário é uma fábula do sol quando atravessa a atmosfera. E eu que andava evitando o noturno, descubro o andaime, monto nele e pego os raios com as mãos.

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