quinta-feira, 14 de junho de 2012

13/03/12 (à máquina)

no autocarro pensei em fazer uma série no livro de poemas de retratos familiares. depois lembrei que [...] sem dúvida outro seria para o meu vô [...]

       meu avô era tipo marlom brando
       que depois empenou como uma pipa de massa
       os portugueses gostam de gordura
       que é uma forma de aliciamento do desejo
       da matéria.
o que mais interessa falar no caso desse vô é dos olhos.
        meu avô me regulava os corredores escursos
        e xxxxxxxxxx o sexo infantil dos objetos macios
        seu olhar morto viajava pela criança que fui
        e foi bem mais tarde que as duas fotografias
        em cima do móvel da casa da minha vó
        que notei no meu olhar de sete anos
        o moleton roxinho e a franja cortadinha
a foto para o passaporte para vir conhecer
aos sete anos esse país onde vim viver
e da onde meio que meu avô era
e pra onde veio concluir, em coimbra, os
estudos, com a minha vó, muito apaixonados
vê-se nas fotos - - - mas em cima do móvel
denso da minha vó, a fotografia dele era muito
maior e de outra oficialidade, uma foto de cargo
a cabeça inclinada, catedrático ou reitor, mas o olhar
o modo de olhar, o ângulo meio vesgo e aquático
perfurático e diretivo, do meu avô aos 40 e tantos
era idêntico, era o meu aos 7 anos.
esse olhar de ter idéias, ainda me acompanha
hoje.      nem sempre, talvez
               as melhores.

[...]

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