domingo, 2 de setembro de 2012

o caule da alegria

"Se falta vida à nossa cultura moderna, é porque é impossível imaginá-la sem esta contradição, ou seja, não é uma cultura autêntica, mas uma espécie de conhecimento do que é uma cultura."

"Esse famoso pequeno povo, de uma antiguidade bastante recente - refiro-me aos Gregos - conservava tenazmente, no período do auge da sua força, o seu espírito não-histórico. Se um homem de hoje pudesse, por virtude de qualquer sortilégio, regressar a essa época, exporia à irrisão pública o segredo ciosamente dissimulado da cultura moderna. É que nós não possuímos nada de próprio; tornamo-nos algo de considerável, quero dizer, enciclopédias ambulantes, quando nos enchemos das épocas, dos costumes, das artes, das filosofias, das religiões e dos conhecimentos dos outros, como diria talvez esse velho Heleno se por acaso tivesse sido transportado à nossa época. Mas o valor das enciclopédias está apenas no seu conteúdo e não no invólucro, na encadernação de coiro; é desta forma que a cultura moderna é essencialmente interior; no exterior, o encadernador inscreve qualquer coisa como 'Manual da cultura interior para homens exteriormente bárbaros' ". 

"O homem que procura compreender, calcular, apreender, no momento em que deveria fixar na sua memória, como um longo sobressalto, o acontecimento incompreensível que o sublime constitui, pode ser considerado inteligente, no sentido em que Schiller fala da inteligência do homem inteligente; há coisas que uma criança vê e que ele não vê. Não será capaz de ver o pormenor único, exactamente o mais importante, porque a sua inteligência é mais pueril que do que a de uma criança e mais vã que a de um simples de espírito, apesar das numerosas rugas da sua face manhosa e encanecida e das suas mãos hábeis para desfazer as redes mais complicadas. Resulta isto de que, tendo perdido e destruído o seu instinto, ele não ousa soltar o freio do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos. O indivíduo torna-se então timorato e hesitante e perde a confiança em si; dobra-se sobre si próprio, sobre a sua 'interioridade',"

"A filosofia não tem direito de existir no interior de uma cultura histórica se pretender ser algo diferente de um saber confidencial e sem acção."

das "Considerações Intempestivas" do amiguinho Frederico Nietzsche,
mariposa rondante lâmpada. 
tradução de Lemos de Azevedo.    

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter