sexta-feira, 26 de outubro de 2012

raça


RAÇA

lá vem a força, lá vem a magia
que me incendeia o corpo de alegria
lá vem a santa maldita euforia
que me alucina, me joga e me rodopia

lá vem o canto, o berro de fera
lá vem a voz de qualquer primavera
lá vem a unha rasgando a garganta
a fome, a fúria, o sangue que já se levanta

de onde vem essa coisa tão minha
que me aquece e me faz carinho?
de onde vem essa coisa tão crua
que me acorda e me põe no meio da rua?

é um lamento, um canto mais puro
que me ilumina a casa escura
é minha força, é nossa energia
que vem de longe prá nos fazer companhia

é Clementina cantando bonito
as aventuras do seu povo aflito
é Seu Francisco, boné e cachimbo
me ensinando que a luta é mesmo comigo

todas Marias, Maria Dominga
atraca Vilma e Tia Hercília
é Monsueto e é Grande Otelo
atraca, atraca que o Naná vem chegando

os escaravelhos das campinas mais baixas

NEGRO REAL

Só a noite deves deixar falar diante dos olhos:
só a folha que ouve onde ainda há vento;
só a voz na gaiola do pássaro.

Só elas, elas e nada mais.
Mas a ti mesmo dá um pontapé e diz: sê corajoso,
sê digno da pedra sobre ti,
não quebres a amizade com a barba dos mortos,
junta a flor ao verme,
iça a tua vela sobre caixões,
traz para bordo os escaravelhos das campinas mais baixas,
dá a notícia aos obscuros.

Dá-lhes a dupla notícia:
de ti e de ti,
de ambos os pratos da balança,
da escuridão que quer entrar,
da escuridão que deixa entrar.

Dá a notícia aos escaravelhos,
dá a notícia aos obscuros,
junta flor ao verme,
iça a tua vela sobre caixões,
deita o teu coração à cabeceira.



Paul Celan, em tradução de João Barrento, de "A morte é uma flor".

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

sat


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

também não sei se me quero polir, but

um gênero de texto que faz tempo que não escrevo é o da confissão empenhada. percebi que sou azul. like a river, a goddess que te deseja mais que a escrita. a deusa subiu pelo barco talhado em carvalho, respirou três lances de escada e disse: tento tanto compreender os caminhos, que algo que me ensina, algo que eu me provo estar errado, é capaz de transtornar tanto o meu caminho, a ponto de me reinventar todinha, como alguém que comesse uma caixa de bis e fosse amassando os papeiszinhos, até só terem os papéis amassados na caixinha de papelão. a capacidade de transformação já foi das coisas que mais admirei em mim, mas enquanto admirava, não conseguia perceber o quanto isso é realidade. agora que não admiro nada (não admiro praticamente nada em mim) posso perceber. e algo nisso (talvez a maturidade, sonho de uma trepadeira) teme a possibilidade reiterada de entender algo tão inteiramente, ficar tão convencida, ir de modo tão determinado em direção de uma certeza que ABRAM ALAS A PAREDE CRESCEU. é o que eu vi nos olhos do meu avô naquela fotografia em que me vi também: posso me fascinar de modo tão inteiro por alguma coisa, ao ponto de tropeçar por ver vôo onde há queda. por isso mesmo, escrevi uma vez: dar tudo à vida. e depois saí aos pulinhos.    

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

so may I introduce to you

quando entrei no jardim pensei: a europa, como sempre
só sabe agir em proveito (e destruição do que lhe é) próprio. no brasil há uma onde nacionalista legitimada pela euforia do capital e pelos ressentimentos constituídos nos últimos 200 anos.
no entanto, há pessoas que tiram fotos de neurônios, e outras de galáxias.
e ambas se parecem.

cíclico


todas as minhas identidades, as mais fundamentais,
andaram comigo na mochila pela tarde.

depois a professora, propondo-me avanços, me indicou a leitura do meu livro preferido.


domingo, 14 de outubro de 2012

e isso

ricardo e eu fizemos

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

conhecer os limites - mergulhar neles. ser a fronteira deles. noite dessas sonhei com uma fronteira com o mar. revolto, a fortaleza onde começava a terra, digo, a areia. a tétis apareceu por cima da minha barriga, fora do sonho, eu olhei de soslaio e dormi novamente. a gata cinza foi parar no meu antebraço, carregador da beira-mar, fortaleza de pedras velhas, veemência do oceano ao redor.

sábado, 6 de outubro de 2012

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

saturno!

a menina hilda também o saúda


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"e a sede é tal que bebemos até ter água nas veias"
meu namorado fazia yoga, mais em idéia do que em movimento. mas a memória me interessa cada vez menos como o que aconteceu, cada vez mais como ecoa. me surpreende quando percebo que o desaparecido retorna. permaneço olhando pra fora, reconheço o que no presente me trouxe aquilo. porém meus sonhos têm sido esmagados, estou sempre numa viagem, vou nos perdidos & achados atrás do que não tenho mais em mãos, mas tantas coisas acontecem que quando acordo já não me lembro mais. e como uma agulha de assombro escuro uma imagem do sonho salta como se pedisse RESGATE RESGATE, mas o sonho fica lá, dentro de uma lamparina que se acende e o queima. tudo por si só. controlo muito mal esta máquina. 


depois um sonho em um avião. cheiro de avião, luz de avião, frio de avião, plástico de teto de avião. tem um lance com uma mala ou com meus documentos 

(sim, é tudo uma questão de perda e recuperação de identificação) um tecido vinho também, não sei se das poltronas ou da minha roupa. 

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

deito amarelo sobre o vinho

com o pensamento na maria
não tem jeito, não tem lugar que me sinta mais livre do que aqui. até a entrada de saturno em escorpião, estou de férias. numa grande vontade. grande vontade que não morre, só morre com a morte. meus gestos mais presos, isto quer dizer mais secos e certeiros. sou uma grande bondade de raiz. misturada com pêlo de nariz e jibóia. é isso que eu sou. jibóia jararaca mesmo naja levantando é o povo nesta crise. é como se nos dissessem "o circo não pode parar" só que em vez da palavra "circo" tivessem escrito a palavra "crise".
no entanto transatlântico e aquela euforia se fazendo espuma, espuma de raiva. de repente, no país onde tudo é possível, tudo de repente fica legitimado, deus contra todos, sr. rocha já dizia. a hilda veio falar comigo ontem à noite. ela me disse que tudo é precário. e cheio de banha, pra lambuzar as engrenagens. da mandíbula que é o músculo mais forte. não que eu ache que um sorriso custe muito, aliás, um sorriso ainda não custa nada, não é pra economizar sorriso, viu, menina.
então era madrugada e ela entraria pelos meus poros de terra. sou como um alho-poró: plantada e cheia de grânulos ao redor das minhas partes. uns dias atrás fui para o jardim, escrever o poema da espécie, e os cães ladravam em todos os quintais. considerei então a noite, fiquei sozinha com a imponderável. ontem, não. ontem vi os dois lados da madrugada: e, percebendo, escolhi que aquela noite ficaria linda e louca, mas sozinha na dela, que eu ia dormir. porque se não, madrugada que não te escolhe, te faz entristecer. talvez esse seja sempre o umbigo da madrugada, e quando a gente tem uma grande noite, que dançar ou gemer ou ler nos deixa tão felizes, é porque transitamos a noite, sem ela nos entristecer (muito).
mas o dia também, sempre volta, inabordável. a manhã te pede "pausa" e você com um sete de paus na mão, louco - louco pra blefar. cai na estrada, meu bem, vem comigo. ando toda nas polaridades e nos constrastes, algo disso há de se tornar desconhecido o bastante pra nomear-se como "seu caminho". 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

 

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