terça-feira, 25 de junho de 2013

you know you should be glad

daqui a pouco falta muito pouco há anos não faltava tão pouco 
pr'aquele que tudo expande voltar pra casa da mãe, não não, não como quem volta cansado de um casamento falido, ou quem volta pra um almoço de domingo. não não, ele volta pra casa da mãe desnudo e louco pra tomar um banho e, quente de tão doce, outra vez encontra em si o menino-moço, vadio. o menino que gosta de chupar raízes, barbatanas, restinhos úmidos entre as rochas do que já foi, ele. noite próxima, quiçá noite que vem, ele te fará sonhar com o seu prazer. 
eis quem eu amo. 


ocupar essa rede, ocupar
deitar nela, espreguiçar, perder
perder perder perder perder
o peso dos ombros

os dias seguem os dias
sendo todos de dores de músculos
e grandes mandíbulas que não param
de cerrarem

um dia eu mesma estarei morta
levantada exclusivamente pela tábua
de madeira do meu caixão
ou pelo vento que vai levar as cinzas

mas antes disso eu tenho
músculos, dons nos bolsos,
raízes. eu mesma sou toda

uma fábula do (ainda que pouco) movimento.

sábado, 22 de junho de 2013

passagem

não foi bem um sonho, foi o miragem do quase sonho (das que o uso contínuo do chá tende a aumentar): um caminho de cascalho, como um túnel, com muitos tons de cascalho, e aberto luminoso cheio de luz. um caminho onde toda forma de vida que não fosse cascalho e concreto tivesse se desestabelecido. mas curiosamente pra todo meu imaginário anterior na vida, não, não era terrível. era encantador, calmo, e bonito. 

está acontecendo uma substituição. 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

não mesmo


antena

tem algo de tão urgente no ar, tão insurgente também
que dentro de todo cetiscismo pode viver um conservador

dito isso penso que foi meu lado mais jovem. mas todo o meu corpo está ardendo de cansado como o de um velho que tivesse passado o dia no mar, enregelado. ou seja, até aquilo que é velho

destruído, dolorido
cansado em mim

se cala.
e se fia no que é.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

nos entres das coisas

eu levo em consideração que tudo que acontece enquanto estou escrevendo um livro deve poder caber nele. até agora estive escrevendo sobre mim. agora assim, é só sobre eu mesma de novo, cabrum veio uma nuvem, molhou molhou eu. e a galinha cabidela. eu tentando ir pro fim do século xix, mas é a mesma história. minha gata que nasceu no ano passado cabe dentro da minha história. isso porque ela está aqui do meu lado. isso porque ela está viva. espero que vocês respeitem isso. e se não respeitarem? cabrum vem uma nuvem, molha molha nóis. é isso, vou ao .doc. 

o novo o novo o novo está chegando

terça-feira, 11 de junho de 2013

mil anos nos separam, Altazor

Mil anos nos separam,
Altazor
e passei a noite, meditando
a duplicidade das estrelas
seu reverso,
meu amigo,
matéria de luz e espírito,

eu sou a matéria do que não acontece,
     se tivesses um irmão
     nascido
     do clarão do dia — sou
     eu — Altazor
Aquele que nunca
     sossega nas paradas
aquele que só pode se esquecer
porque os que lembram
estão sozinhos
     e é de noite.
aquele que só pode se lembrar
porque os que lembram
estão sozinhos
    e é de noite.

Eu sou a fenda que ultrapassa.

Altazor tu és a própria
     esperança do que recomeça.
Eu sou o término
      o término. O filho de Saturno
      mensageiro veio

      roubou as portas
      do seu pai
      enfiou a garganta
      nas fechaduras

e começou a sangrar
como se cantasse. Tinha dentes
muitos nessa época, Altazor.

Me despedi de mim para receber.

sábado, 8 de junho de 2013

alforria blues ou Poemas do Destino do Mar





me esforço tanto pra não ser severa e ríspida,
muito mais pra não ser profissional
que nem coloquei aqui nesse delicioso caderno de rascunhos
as informações de venda do meu livro mais atualmente feito

na foto acima seguro o meu exemplar de "alforria blues ou Poemas do Destino do Mar", ligeiramente inclinado para que o sol ilumine a cratera lunar. cada capa é cada uma, que foram feitas pelo luís numa prensa antiga, que pode ser vista em funcionamento no vídeo feito pelo daniel.

pra comprar o livro temos alguns meios que se indicam no site das Edições Chão da Feira
mas aqui também ilustro os meios:
pode-se comprar pelo e-mail: livros@chaodafeira.com
e também são encontráveis na Livraria Quixote, em Belo Horizonte; na Intermeios Cultural, em São Paulo, na Gato Vadio, no Porto; e na Letra Livre e no Paralelo W em Lisboa.
pra além disso, quem deixar um comentário nesse blogue querendo um exemplar, deixe-o com o endereço de email que daí eu respondo e se combina o fazer dos escambos de papel simbólico por papel simbólico, 

soluço

de repente antes, ou tão perto me olhava
uma cobra serpente criada
servente de mim, quiçá?
vermelha rubro sangue
como a um corno eu evitava
os versos que se aproximavam  - - - era como se eu quisesse ter me esquecido - - - de certas faculdades do fundamental
e escolhesse ter como baliza a rispidez constrita de um raio, o corpo todo vivíssimo
de tão inflamado
inflamado o estômago a bexiga inflamada
os olhos inflamadíssimos cheios de seiva de atriz
aquela que profere atos - - - e esse computador denunciando sempre a falta de um "c" hipotético que transmigrasse a correção  - - - do passado, vejam bem. a correção do impossível,

nada não. nada pra dizer. pra além de uma serpente na frente da face olhando, por dentro, os meus olhos.
vermelha de ferrugem, e amarela de sangue
sendo a cara dela, os seios da minha face
vejo de tudo, pois é

é porque alguns comem canela, outros vitela
eu, que como de ambos, vejo de tudo, e sinto pouco
pouco demais pra entender os tempos que vivemos
e que estão, é evidente, se desdobrando em outros,
na nossa frente.

minha vida mesmo só acompanha isso, esse trilho do ritmo,
a capacidade de tudo ser aquilo que é: mutável, processo, violência e degeneração.
carinho também. muito carinho.
ternura. ternura. ternura. gordura.
bem tenra quando sarar.
 

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