segunda-feira, 30 de setembro de 2013

abetos

para quem canta velhas canções em guarani, eu escrevo este gesto no ar, e ele se expande até integrar uma roda de gente a girar, de mão dadas, não nos afastemos muito. depois disso eu vou comer umas bananas, não num dia tão úmido como hoje, que elas me colocariam a espirrar. no meu primeiro livro escrevi que achava que não se devia tomar banho em dias de chuva, isso quando eu era criança. atualmente tenho mais preguiça de escrever do que de tomar banho. e a necessidade das duas coisas. organizei um pouco a correspondência do futuro. foi o que consegui fazer logo de manhã, e de repente eram quatro horas da tarde e eu já havia temperado o frango. espero que não chova no dia do nosso casamento, não é possível que outubro seja essa nuvem cinza que só se atravessa ao chegar do outro lado. do atlântico. não sei como você acompanhou isso até aqui, se fosse eu lendo já tinha achado uma egotrip sem tamanho, estaria fazendo outra coisa. é que eu posso pouco com a porosidade. tenho órgãos demais, talvez. ontem eu sentia meu fígado saltando, por exemplo. isso depois de comer muito sal porque ele tirou mal a água do bacalhau. os detalhes do matrimônio. os ritmos dos fluxos. que vontade de comer mais. que vontade de nunca mais parar de comer. e o sal lá, o sal tinindo meus impulsos, e todas as outras coisas que os humanos inventam consumir para sentir menos, ou para morrer mais rápido, não sei bem. aliás, se tem uma coisa que eu não entendo é impressora. ando assim, num nível mais básico do que o básico. não quero mais que escrever durante uma tarde toda algo com nexo e foco, mas por enquanto melhor seria vestir um fato de foca, e sair por aí. 

alguém me traga o traje de foca, que aí sim, eu bato palmas. 
tô difícil, não nego. 
para escrever é que estou me esperando no futuro
de abraços e abertos.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

exato

justo agora, atualmente, que a situação política está inflamadíssima (há dias que meus úteros também), hoje conversei com uma senhora que tinha um crachá com o seu nome escrito e embaixo a sua profissão. é ela quem vai me casar, mas percebi que já não se assinam papéis. como será ainda não sei. ela disse que se quisermos ter uma cerimônia (será que se chama cerimônia?) de casamento com rituais nossos podemos, desde que eles sejam "normais", e a turma toda do Variações bateu palmas para as plumas de pavão que, sim, vivem em mim. eu pensando essas coisas e segurando meu passaporte. que não é suficiente. o sistema burocrático brasileiro não vai pendurando suas fichas de cidadão como despojos de inimigos mortos pendurados nas casacas de dentro da pele de alguém. vê bem, eu pensando essas coisas, vê bem, parecia que era de manhã mas já era mais de meio-dia, nós em Almada no primeiro dia de chuva, o outono também pode entrar, o que consegui perceber foi ler, abaixo do seu nome, sua função social "conservadora". já não dei risada. já não rio mais com essa língua, ela já é a minha língua? não. só fui parar noutro lugar. em que rir não é demais, é tanto, rir é um soluço, ah rir é tão raro. mas não estou triste. nunca estive tão pouco triste. sou um âmbar, sou uma águia, e ah!, vi a virgem maria.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

sobe do chão

Foi-se o tempo em que confundi ação
com a fúria do movimento
arrancava lascas dos pratos
quando os punha a secar sem jeito
com o que é celestial

a calma  
ou o agora que tudo concede
lento, tão lento
tudo cresce e permite
sentir a espessura da língua
como pedras de sal entre os dentes.

Visitei o encontro entre dois oceanosmuito fundo vi o azul
que o sal respingou nos meus ossos
me marcando feito gado.
Uma besta intentou fugir, mas senti
os braços como galhos
de um velho carvalho
enraízado e que não considera
mudar de rumo.

Cativa, tua árvore dá madeira
para a minha vela ao vento.  
Onde que te encontro?
Se chacoalho dentro
dos meus frutos. 

domingo, 15 de setembro de 2013

oficioso, em três vias

perguntaram-me ontem qual é a minha profissão. considerando que, num mundo como o nosso, tal questionamento é, no mínimo, acintoso, e o único ofício que me interessa é a honestidade; respondi: "atualmente trabalho para que a tristeza não vença". o questionador, sentindo-se dúbio, desapareceu.

eu permaneci com amor nos olhos. 
não foram as tesouras que me cegaram.

qualquer um que se sinta a maior parte do tempo desempenhando um papel não é meu amigo.
era domingo, mas nem os itálicos descansavam.

sábado, 7 de setembro de 2013

colisão ou

já é 7 de setembro e tantas imprensas seguem usando a palavra "confronto" pra nomear aquilo que é violencia militar.
procurei "independência ou morte" no google e descobri que é o lema da independência da romênia.
lembro do cazuza e da gal cantando "brasil" e acho que devo ter assistido ainda criança na globo, "grande pátria desimportante", as contradições incluídas.
entro na página da ninja e sem muito notar, troco o verso do drummond de "nenhum brasil existe" pra "todos os brasis existem".
e será que coincidem? será que um dia vão coincidir?
o brasil e sua capacidade de auto-regeneração excludente.
tudo que (não) desaparece se regurgitará.
 

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