domingo, 8 de dezembro de 2013

a guerra é a guerra

você tem dias que acorda sentindo que está em dívida com tudo
(por mais que a vida que leve não seja mais do que cumprir com as coisas a que se propõe)
você tem dias que acorda e só tem a fome dos que não tem fome e a quem nada sacia?
você tem a fome do esquecimento?
ou a fúria da memória?
eu tenho ambas além de sintonias múltiplas
estar com a mandíbula doendo (e o canal do ouvido por consequência)
e leio num livro de capa negra (repentinamente espalharam-se livros de capas negras pela casa)
que a mandíbula determinou o tamanho da caixa craniana
em todos os vertebrados (nos quais eu me incluo)
a estrutura da coluna é mais violenta do que se pensava
e mais delicada também.
ando só ossos
         os descobrindo e reagrupando e desconfio profundamente
(superfície com destaque) que meu cérebro esteja sendo reprogramado
como uma esponja cósmica
outros poetas já disseram
que o poeta é a antena da raça
se isso for verdade
eu sou a esponja cósmica
e no fundo (e também no princípio)
há uma baba de resto de sabão
água acumulada e detritos
que passar por debaixo da água liberta
como quem desmaia o mal
           a água é mesmo o maior veículo
           por isso vou voar
           para não tocar no que é grande.
estou fadada às enormidades
alguns se assemelham
ao minúsculo, ao particular
eu coloco a força toda nos músculos
depois é domingo e eu acordo com a mandíbula doendo
e passo minutos vendo crânios de animais que não existem mais
(embora ele me interrompa para falar da segunda grande guerra e da influência disso na ucrânia hoje)
embora suas mandíbulas com dentes distintos entre si permaneçam
nos cães. que correm e saltam e comem e mordem
a minha mandíbula.

Um comentário:

josé luís disse...

… e não se limpam as armas.

 

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