terça-feira, 14 de janeiro de 2014

das despedidas

Perdi meu amuleto, depois achei
o âmbar do mar báltico me espera
na outra ponta de Lisboa.
Embora a morte de ilustres seja a cada dia mais cotidiana
não é só a cidade que está afogueada de vermelho
nesses dias de fuga,
veja bem,
veja meus olhos,
tantas coisas a fazer
a melhor delas é que percebas isso
mas eu teria que ter garganta
grafite, que era pouco, nunca usei.
Gasta-se como o tempo
nas solas dos sapatos
nas calçadas brancas
embora haja o aprendido
de carregar minhas coisas
limpar os ambientes
tomar chuva sem chapéu
e falar duas línguas
numa mesma língua
numa mesma língua
ainda não sei se "grafite" é masculino ou feminino.
São tantas as nuances do desejo.
Quando chega o fim
é assim a gente se confunde
sempre pensa ligeiro e lento
onde estará o alicate?
Que tenho de levar
pra arrebentar o elo
que desaprendeu a amar
esquecido de voar
depois de ser do sol
onde criava caminhos
agora vê só a marcha lenta
o nevoeiro dessa terra
onde as folhas ainda caem
sustenidas pela minha saliva.
É a mesma salina memória que vem do rio
e que tantos ouvidos furou até que cantassem
a mesma salina memória que vem do rio
e que, depois de parecer brisa, revela-se entranha
e pesa nas ancas como gruda os calhaus
na orla.
Caiu a noite lenta
a cidade
se dissipou?, não sei.
Sei que choveu
dentro do adeus.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

eu hoje conversei por encontrar por acaso na rua com um dos homens mais inteligentes e entusiasmados que já passaram pelo nosso século e ele estava muito desanimado. não desejou mal, mas me preveniu tanto dele.
eu realmente acho que algo está fora do lugar na curva do parafuso.
tem um prego entortado na estrutura das coisas.

tive vontade de lhe dizer: que o senhor não caia.
que o senhor se espalhe. seja a própria cordilheira
o rabo da baleia espatifando água
por todo lugar, seja. essas borbulhas são sobretudo isso:
um bom mecanismo de sangrar.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

cobra preta

tenho sonhado pouquíssimo ou lembrado muito menos. mas essa noite sonhei e lembro que sonhei que no meu quarto de adolescência havia uma cobra gorda e preta. eu subia em cima da cama, não era exatamente medo que eu tinha, era dúvida, eu não sabia se a corda era venenosa ou não, o que me causava um pouco de repugnância. tive a impressão de sair do quarto e encontrar meu pai, mas nesse momento não sei se não encontrei meu avô, mas a dúvida permanecia, ninguém tinha visto a cobra além de mim (acho) e então nenhum deles sabia dizer se a cobra era venenosa ou não. também havia uma coisa curiosa que o quarto, o chão do quarto tinha uma mistura entre um carpete de tecido e uns trechos eram como mato de pasto, terra batida e seca, onde estava, claro, a cobra. às vezes ele era gorda demais, às vezes eram lembranças q eu tinha dela o sonho. dormi sem ter a resposta e só vim aqui escrever esse sonho pois foi dos sonhos mais enigmáticos que uma vez já sonhei e, portanto, melhor guardar. 

quando aparecem interpretados já também, guardo. mas depois quando releio esses trechos de textos já não lembro quase nada do que sonhei, e o que escrevi fica parecendo um novo sonho, o que deve ser bom, pra acelerar metáforas, sempre.

sábado, 4 de janeiro de 2014

todo sujo de batom

se desde muito a verdade virou uma moeda rota
e a metáfora uma nota de troco rasgada,
lime-se uma na outra e do contágio
entre o velho, o desuso e o cansado
nasce (do cascalho!) o fogo.
usem as metáforas, senhoras e senhores,
são vossa humanidade. eu vou dormir,
sonhando com uma coluna vertebral renascida em cauda.
 

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