sábado, 26 de abril de 2014

poética



Escolhi te escrever nestes dias de Netuno. Há brisa, neblina em outros campos, ventos repentinos turvos, tempestades e reina tão grande a nítida beleza de tudo que me sinto alguém de outro século. Mas, se fosse alheia a este tempo, como pensaria: a cada dia mais incorporo essa certeza: nada comunica mais sem ter o que dizer do que a beleza. É por isso que falo tanto do mar e dos cavalos, é porque estou interessada na comunicação da beleza, no nada que estão dizendo o tempo todo. E é por isso que estou a cada dia mais com as plantas. É certo que tudo tem a sua linguagem, mas é muito improvável que seja possível traduzir o que uma planta pensa, talvez porque quando ela resolva pensar, ela demora mil anos. No entanto, um chá ou algumas cápsulas de alguma erva são capazes de amenizar a dor de estômago da minha convivência. No Brasil eu tenho que estar com as plantas para adquirir um estado de contemplação que na cidade de Lisboa eu vivia só de atravessar uma rua. Ver o Tejo. Sempre isto, a beleza, o que me seduz, também na cidade em que vivi. E como a beleza é uma magia, uma velha encenação, fui enganada. Nos meus últimos dias como habitante da cidade que mais amei, eu pensava: “enganada! Como uma poeta não morreria pela boca?”.

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