sábado, 27 de setembro de 2014

britannica

deve fazer uma semana, um pouco menos, que o Gustavo me mostrou num site português uma enciclopédia inglesa à venda, inteira, por 15 euros "negociáveis".
fiquei um pouco deprimida com isso, ou despencada como numa forca do nosso tempo, desviando do que já passou e pensando quanto vale o google. será que um dia o google também vai
despencar de preço?
mas ninguém vende o google de porta em porta para quem quiser comprar
decorar a estante
complementar os estudos das crianças. 

estava pensando nessas coisas quando perguntei
"mas é a Britannica?"
"não, não é. é a _____"
"ah (...)"

e fiquei entre mim mesma
mais doce do que desanimada de lembrar
que no escritório do meu pai / grande de muitas paredes com estantes, onde às vezes, por medo de ficar sozinha, eu dormia no sofá com a manta xadrez vermelha e verde dos cobertores parahyba, que não era suficiente pro frio úmido da madrugada. mas eu lá ficava com a ponta do nariz meio gelada.

era bem em cima do sofá que nesse escritório do meu pai tinha a Britannica
muitos volumes com a capa perolada
e eu tinha dificuldade em segurar o peso inteiro de um daqueles volumes
que embora contivessem o mundo inteiro, eu lá me interessava?
pegava sempre o volume com a letra D
depois de um tempo já sabia até onde abrir pra encontrar

DOG

e passava inumerável tempo vendo todas as raças de cães com fotos coloridas. eram raras as fotos coloridas em todos os volumes e eu percebia assim a seriedade daqueles sujeitos: o que importa, os cães, estão coloridos, coloridíssimos. era uma maravilha. uma maravilha a seriedade que eu averiguava naqueles livros.
até hoje, que numa busca por imagens no google resolvo o que eu quero em cinquenta segundos, até hoje acho que isso fala mais sobre a minha pessoa do que muita coisa: tipo isso, confiar nuns livros gigantes, só porque em poucas páginas eles nos mostram tudo aquilo que vale no (nosso mundo). e, por hoje, é suficiente. 

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semana passada eu também soube que meu pai tirou finalmente as caixas do galpão onde viviam a maior parte dos livros dele, desde que saímos da casa em que cresci, já que essa foi brutalmente assaltada uma década atrás. depois de anos, parece que a primeira coisa que ele procurava ao abrir as caixas, já na casa nova, foi: "onde está a Britannica?". não sossegou até encontrar as caixas onde ela estava. e isso sendo seguido pela nova cadela que demos pra eles, que veio da Bahia e fará cinco meses dia desses. 


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