terça-feira, 2 de dezembro de 2014

7

não sei, mas acho que foi quando eu tinha 7 anos, que me levaram num médico porque eu não conseguia dormir e sentia uma imensa pontada no coração. de vez em quando. o médico me ensinou a tomar banho antes de dormir, e leite quente. e descobriram que meu coração estava bem, mas que eu (carnívora que sempre fui) deveria comer mais proteína.

eu tinha 7 anos também quando entrei na 1a série e ainda não sabia escrever nem ler em letra cursiva. todos sabiam. a lousa parecia tecida de hieróglifos, é assim que hoje vejo outras dimensões. não sei se com o tempo saberei ler tudo o que vejo, mas como não sei entender tudo que leio, acho que não, que o desconhecido vai vencendo em toda parte do mundo. amém.

eu tinha 7 anos quando saí pela primeira vez do Brasil, fomos até Portugal e Espanha. ainda não existia a comunidade européia (q dentro em pouco talvez também volte à ruína) e quando entramos no metro, na primeira carruagem descemos no Rossio, cheios de malas, e minha mãe ainda dentro do vagão descobriu q tínhamos sido assaltados. lembro do trem atravessando fronteiras. contam que passamos alguma fome, já que o dinheiro tinha sido quase todo levado ao chegarmos para a viagem. meus ouvidos doíam muito. atravessamos a fronteira para a Espanha de madrugada, não carimbaram nossos passaportes. ganhei um coelho de pelúcia branco numa grande praça em Madrid, cuja etiqueta nomeava a fábrica: Alegria. meus pais brigavam enquanto me deram o coelho. essa talvez seja uma das imagens mais fortes da minha memória.

meus ouvidos doíam quando eu tinha 7 anos. fiquei surda durante uns dias. doíam muito. 

eu tinha um moleton roxinho do fim dos anos 80 que eu achava uma gracinha. não deixava que ninguém me penteasse, a não ser minha irmã, que eu via poucas vezes por mês. meu irmão dizia que meu cabelo parecia a orelha da setter que tínhamos, a Bela.

acho que ganhei a Bela quando fiz 7 anos. dei o nome para ela, que era frágil e foi pegada de noite numa casa na cidade de SP.

eu não cresci na cidade de SP.
e acho que, finalmente, aprendo a gostar dela.

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