sábado, 30 de maio de 2015






Ponho-me a pensar o que seria
da palavra ninho
se falássemos outra língua
—falsearíamos outras hipóteses
na lista do supermercado —
e não tivéssemos casa
para nos abrigar deste vento do agora
como se fosse chover
ou os passos sintonizados de alguém
trouxessem a chuva
como um primitivo saber
acendia o fogo. Nestes dias
em que esperamos que chova
mas quando amanhece chovendo
nos esquecemos do quanto esperávamos
— vazio de quanto vivíamos —
quando há chuva nos pomos melancólicos
— nos pomos melancólicos de deus
não há estudo nem pormenores
aglutina-se por dentro a saliva
vigiam por fora estátuas / correm cavalos —
a meditar num saxofone
gravíssimo
como um compositor
que, tocado pela súbita neblina,
com os ombros um pouco tensos
— é tanta coisa a sentir-se viva
pelo mundo — ergue! os braços
alcança os galhos e salva da ventania:
um ninho. Antes que se molhe
antes que nunca mais chova:
pega pela mão a fibra
do abrigo tece o som
tece o meu e o teu.
O compositor quem é?
Nos abrigamos onde não há perguntas.
Sabemos o que é um ninho
quando ouvimos e dizemos: ninho.
Somos capazes de chorar.

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