segunda-feira, 5 de outubro de 2015

hoje eu estava voltando de um dos mais inglórios acontecimentos da minha vida de poucas aventuras, quero dizer, eu voltava a pé do dentista, com a boca anestesiada, quando duas mulheres saindo de um restaurante e, certamente no horário do almoço, passaram na minha frente.

andavam lentamente e nem notavam que eu queria passar, com aquela lerdeza de quem já almoçou e eu me adaptei pelo cansaço e fui atrás, afinal não poderia mesmo, tão cedo, comer nada. diminuí o volume dos fones pois percebi que uma parecia estar apaixonada e contava para a outra como isso era sensacional. mesmo anestesiada, achava que era sempre bom ouvir por alguns segundos alguém falando de amor. até que a menina que estava apaixonada disse:

— ele é maravilhoso... não sei nem explicar... ele é normal! sabe?

pensei ter ouvido errado... mas ela disse mais uma vez:

— normal!

eu achava que só o excepcional era motivo de ternura. os poetas que li estão todos errados. me cocei de vontade de cutucá-la e dizer: "te cuida, minha filha, ele é um serial killer". até pensei que isso seria um péssimo sintoma social. mas pior mesmo foi passar as horas seguintes pensando quem é que eu conheço que poderia ser tão tedioso a ponto de, facilmente, ser chamado por outro alguém de "normal".

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