quarta-feira, 4 de maio de 2016

sou uma poeta sem inéditos e assim eu me sinto como uma poça sem água. conheço meia dúzia de mandingas, noite dessas sonhei que o chão virava água, mas não sei, novamente, como é escrever e é por isso que eu tenho escrito qualquer coisa por aqui. que é pra manter a máquina rodando. uma vez li uma entrevista com o Gonçalo M. Tavares em que ele dizia que antes de começar a escrever, ele escreve durante 3 horas seguidas. "pra ligar a máquina". escrever é antes/durante/depois de tudo um gesto.

em Lisboa tive a sorte de ter aulas de escrita de romance com o Gonçalo M. Tavares, que é tão inteligente que conseguia ensinar os alunos a pensar, a ver, a observarem a diferença entre ver e olhar e observar, mas não a escrever. as apresentações de trabalhos de curso de escrita de romance de GMT eram orais.

não cheguei a apresentar nenhum trabalho, as aulas sobre Hamlet me consumiam toda a energia e chegaria a dizer que aproveitei algumas deixas interiores pra desistir de tudo algumas vezes naquele ano. seis meses antes eu tinha terminado o mestrado e um livro inteiro, os dois ao mesmo tempo. nunca vou ter coragem de reler minha dissertação e meu livro ao mesmo tempo, mas eu sei que há uma ponte, um vale, um rio entre eles, que os une. talvez eles sejam a mesma coisa.

e eu fico tão obcecada num só objeto, daí o objeto fica pronto, eu morro. e é sempre uma morte lentíssima a ressurreição. então eu só escrevo não é nem pra passar o tempo. é porque quando escrevo não tenho a mínima ideia do que estou fazendo. e é isso, o que eu amo.

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