terça-feira, 21 de junho de 2016

abri este computador universo gélido no mais frio da noite quando meu pulmão ressoa e minha bexiga revela-se um comumente chamado corpo
são os mesmos lugares dele que ecoaram em adoecimento profundo no ano passado
as vésperas e nos depois
da morte da minha avó em 19 de julho de 2015
falta um mês para fazer um ano

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eu vim aqui dizer umas coisas com liberdade mas aí abri o facebook 

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hoje abri ao acaso um trecho do zaratustra em que ele fala sobre os poetas. eu li muito rapidamente como atualmente leio a maior parte das coisas que leio. eu sei que esse não é o melhor modo de ler mas no fundo não estou nem aí pra isso. muito rapidamente eu sou pisoteada por todas as ligações da linguagem que um texto quer produzir comigo. sou como um plugue de tomada na parede, conectando com o que ali me atravessa. elétrica.
zaratustra diz que os poetas de tanto falarem pela natureza pensam que a natureza é que está encantada por eles, poetas, que afinal são uns pavões que gostam de pavões.
foi o que eu entendi por hoje. foi o que eu quis entender. outro dia leio novamente e vou entender outra coisa. às vezes acho que o que eu entendo daquele momento é mais importante do que o que está sendo dito. estou me tornando só sensações. sensações críticas, mas sensações.
é claro que o zaratustra faz uma fábula crítica maravilhosa, uma capa cínica poderia pingar rancor ali, mas eu não. me reconheci em cada linha daquele trecho. não senti que ele estivesse inventando coisas, nem que não estivesse sendo violento comigo, escabroso com os outros, eu poderia citar um trecho como uma espécie de "recado". mas eu não jogaria pavões na cara de nenhum outro poeta, pelo contrário, eu cozinharia os pavões para comer e os adoraria passeando no meu jardim, adornaria minhas paredes e pernas com suas penas e os deixaria procriarem livres. nasci pra me lambuzar em pavões.

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