sexta-feira, 25 de novembro de 2016

mora um novo ser em mim que não sei por onde é nem como se norteia mas que se chama coração 

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

tá, me deixa mas 
vou te falar uma coisa bem sincera
já que o nosso amor
vem de outra era 
a baliza desta é a espera 
tá bom o vínculo deixa  
eu te dizer
vou ser bem sincera 
não, não é a primavera 
eu ligada assim em você 
é que não existe mais 
nesta esfera o que eu procure 
de nós dois nada nada a temer 
não tema 
que ainda sobre que ainda falte que ainda haja o que dizer que ainda 
se elabore o ainda 
a minha fera 
é tigrada fingida 
a minha bala migrada 
eu atingida 
sou um espelho que se espelha em cacos de um espelho espelhado 
migrarei para dentro do espelho 
e vou renascer em lago 
eu não consigo te dizer o que estou procurando dizer
em ti 
um alicate uma tesoura um nunca mais  
por favor não diz nada que me meta objetivamente numa coisa objetiva o objetivo o objeto o obtido o bocejo 
sim eu estou por todo o lado e por todos os lados eu estou sem você 

terça-feira, 22 de novembro de 2016

vive em mim uma pessoa muito passional
nos dias ímpares ela se liberta
nos pares ela se comporta
essa pessoa toma sol no caminho do trabalho
cumprimenta com delicadeza
escancara com cumplicidade
duvida com confiança
tem armadilha lance coice travesseiro peito
pede comida delivery
abre a janela escancara a porta
escancara os dentes a minha pessoa muito
passional diverge de si mesma
estabelece prioridades imediatas
convive com seus poemas antes de escrevê-los
dia sim dia não o nome de alguém esquece
a minha pessoa muito passional o fogo ligado
e ainda volta mais cedo pra casa pra tirar o lixo
alimentar os gatos a minha pessoa passional
adora alimentar
as veias de gordura os vasos com adubo
o rigor dos astutos
não assusta a minha pessoa
o escuro
a morte
o amor a minha pessoa passional
não conhece nada disso
a minha pessoa muito passional
não aprende
mas esquece
e dura como dura como é dura a minha pessoa
de carne mole sangue fresco corpo vivo
muito passional a minha pessoa

terça-feira, 15 de novembro de 2016

ela me disse "troquei seu nome para 'ninguém' nos meus contatos" & saiu lúdica e lúcida sem dever uma chamada, uma mensagem ou uma massagem. onde tudo é esquecimento os burros foram dar na minha agenda e sem que ela pudesse sequer pensar em se afogar, duas horas no sofá e uma paz certeira na certeza vá embora desate fique a boiar como uma terra no espaço rodando uma balsa atravessando o canal ou a ilha da tranquilidade afundando. 
o nunca mais mora muito longe 
não tem nada dentro dele além de frio 

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

isto aqui funciona como os emails
se envio sem reler
é porque tá pronto
acho homens com um pouco de crivo descuidado charmosos, com muito crivo deliciosos, com crivo e timidez incríveis, com crivo e um belo rosto aliás, é uma coisa de louco. não me movimento na direção deles pois eles estão sempre cansados de tanto crivo que tem. quanto mais crivo eles carregam mais eu sinto que as chaves de fenda deles abrem todas as minhas cinturas. não que eu deixe alguém com um pedaço de metal se aproximar de mim, não. eu afasto tudo que é armamento com a respiração do meu pensamento. mas não desarmo as bombas, eu as estico entre as minhas canelas, eu desmonto o mecanismo do armamento e perco as mãos, nunca troco as palavras e esta articulação me custa uma dor na mandíbula que aumenta quando eu durmo pouco, estou para menstruar ou esqueci a caixa de ferramentas em casa, o que praticamente nunca tem acontecido, porque eu desci com tudo pronto de dentro da cabeça do meu pai que é também uma nave alienígena que foi dar no calor da minha mãe e pena que eu não nasci boêmia, não sei porque isso referido agora.

em que a aurora atravessa a primavera

eu poderia falar outras coisas também, contar da amplitude de sentido que me mostrou um sacerdote uns dias atrás, ele me abriu como um machado, coisa que ninguém faz, ele entrou onde ninguém absolutamente entra nunca além de mim e alguns ícaros ele chegou lá com as palavras ele me disse aprenda entenda estude arrisque o direito a lei o direito entenda até conseguir direcionamento direcione direcione eu nem entendi direito mas eu entendi tudíssimo tudinho eu já tinha visto mas ele foi com um bisturi com uma alavanca derrubou a porta mas como uma revoada também agitou muita pequena coisa à toa e eu entendi mais uma vez que a senhora de tudo dentro de mim é tão inteligente que pode até, ocultar-se num búfalo deixar-se desaparecer em nome do nosso destino que é um só caminho um só caminho e também não é o caminho do mar, é o caminho do rio, ser assim, leito de corredeira doçura hoje mamãe foi lá me visitar eu deitei também, deixei passar, não é todo dia que mamãe assim essa não minha e presente numa alteridade do que não sei ser colher colher tanta pequena coisa tão juntinha é tão ternura isso também a ternura a ternura a ternura mora tanto desapego na ternura eu aprendendo que falta tanta coisa tanta coisa e um redemoinho que desagua em flecha tão bom não precisar fazer sentido e, assim mesmo, fazer tanto. 

sei que às vezes, em nome do enorme, eu fico um tanto simplista: tanto que fui fazer outra coisa e me esqueci do que eu ia dizer aqui.

em que a autora expõe seu veredicto final e descansa

uma alternância de velocidades, talvez até uma dificuldade de perceber o que é velocidade. ando bem interessada nessa palavra, também. a velocidade toma toda forma de inconsequência consequente, vivendo da transformação energética. por exemplo, é uma velocidade a minha preguiça de pensar, de fato, sobre "velocidade", mas este cinismo é só cansaço mesmo. evitam qualquer relação com pessoas de temperamento sórdido. ai ai ai quem dera. olha o cinismo de novo.

mas eu vou enfrentar esse medo de escrever de fato, porque eu vou começar, eu já comecei, eu já voltei a escrever, até mesmo a te escrever eu já voltei duas vezes por uma mesma porta eu me perdi mas eu nunca nunca estive tão certa de algumas coisas dentro das minhas partes imediatas e mediadas também. uma nova mudança em breve, vai acontecer.

por exemplo me dar uns minutos por semana pra escrever aqui no meu blogue e simplesmente deixar os dígitos rolarem tipo neeeeeeeeeem aí se alguém está lendo se não está. eu gosto dessa indisciplina e mais até do que isso: eu preciso. por favor, tudo que eu menos quero é me tornar escritora profissional, eu só escrevo porque eu preciso eu quero eu necessito me perder todos os dias um pouco. umas semanas atrás na ponte do Sumaré tinham uns lambes colados dizendo SEJA VOCÊ MESMO SEJA VOCÊ MESMO SEJA VOCÊ MESMO SEJA VOCÊ MESMO eu olhei aquilo, eu hein, me deu uma raiva, eu tive vontade de enfiar o seja você mesmo não vou nem dizer onde de quem fez aquilo, porque vocês sabem onde é. quem sabe assim nos entenderíamos melhor.

a ana cristina já renasceu em mim eu agora vou numa mesa branca receber a clarice e já volto. pronto, fui, voltei, estamos aqui as três e nenhuma de nós sabe muito bem onde colocar as mãos. a primeira a resolver isto é clarice, sagitariana e confiante, coloca as mãos em cima da barriga e solta um miado. clarice começa a se lamber a barriga e quando, de repente, se assusta, diz algo muito acutilante e terno em direção a ana cristina, que a beija na boca enquanto tira um brigadeiro e põe debaixo dos meus cílios. percebo que é um brigadeiro envenenado, ana querida, mas como assim mesmo, estava uma delícia, querida, quererá ainda me matar? 

ele também não sabe o que fazer então não faz nada. as decisões prudentes as intermitências do tempo as analíticas posições do esfriamento os esfriamentos das posições as travas do destino as carrancas dos meus guias as fronteiras da minha força o fogo eterno pra consumir o inferno fora daqui & eu como devoto, trago um cesto de alegrias de quintal

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Levo com ternura as coisas preciosas que você me entregou
como as desconhecia não sei bem de que material são feitas
madrepérola barquinho de papel carne e passado
onde as colocar se nem cabem nos armários que divido
com o mundo as misturarei
no barro levado pelas enxurradas
asas para voar nos dias sem horizonte
um punhal para abrir a correspondência
eu carrego junto ao peito feito amuleto
amaciando os joelhos os tijolos sem metafísica estalam
as estruturas na esperança de que tudo estará desencontrado
e um travesseiro deita o meu pescoço no teu esquecimento
há embriaguez para as noites sem fumo
para as noites de lua todas as canções
dos compositores de destinos eu sopro
as melodias no vento que desce a rua
o vento em que me torno para te ensurdecer
me enovela me envolve e me acolhe
feito uma capa para os dias nublados
o sol volta a esquentar a nuca dos gatos
no parapeito da janela uma vontade de nunca mais
rodar as engrenagens que rodam as folhinhas dos calendários
já não se usam mais a não ser em alguma parte
onde também o nosso amor insiste
aberto pela temporada de chuvas
fechado sempre que é primavera.
raramente me pergunto porque isto não desaparece
sinto simplesmente uma rarefeita forma de loucura
um incêndio agitado um calor exatamente baixo
como a temperatura que caiu
e se não se entra duas vezes num mesmo rio
divirto-me à beça nos dias ao redor
e tu também
atravessou o mar pra me ver
uma espaçonave
que vagasse incandescente
me norteava mais do que a mim mesma
não sei porque nos despedimos na primavera
 

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