segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

gosto dessas madrugadas. passei grande parte da vida que já vivi achando que eu era uma pessoa notívaga e talvez eu até fosse, atravessei toda a adolescência com algum disco que pontiagudo fosse até o âmago de alguma densidade. anos depois também migrava pela noite dentro, até o reverso.

fumava, bebia água gelada, ouvia gal costa e janis joplin, coisas que não faço mais, ou não faço mais dessa forma. lentamente vou me tornando uma pessoa das manhãs, a cada ano acordo mais cedo. embora das noites eu goste, eu gosto delas tanto que permito que me comam, que me abocanhem. tem seu perigo.

tento, como eu tento e todos os dias, descultivar as angústias e eu tenho muitas angústias e as noites as ampliam como latifúndios em que é possível se caminhar. sou só um corpo pequeno no escuro, o escuro não é possível mapear. fechar os olhos, escutar.

e como eu gosto, gosto mesmo das madrugadas pós-feriados eufóricos, glutões, excessivos. eu adoro a madrugada que é agora: do 25 para o 26 de dezembro; ou a noite em que se vira do dia 1 de janeiro para o 2.

são noites infinitas silenciosas, enfastiadas, melancólicas, exaustas, enxutas. quando alguma ressaca de tudo que se viveu se apresenta numa corda bamba e há um mergulho no finito, no inevitável, que tranquilidade, parece que finalmente tudo dormiu.

faz silêncio essa noite e eu também.

domingo, 25 de dezembro de 2016

as partilhas do absurdo
não paravam
de chegar.
mas eram só três fios
os que nos ligavam um ao outro.
o primeiro deles ia pela serra até petrópolis
e caiu uma árvore na estrada e ficamos
através dele, desligados, sem conexão.
o segundo fio percorria a minha nuca
e ia até o estabelecimento da sua vida
fazendo a gente se dar de cara
ou fazia com que tudo que você pensa
venha parar
no azul escuro
que mora dentro de mim.
o mesmo azul escuro
que mora dentro de ti.
o terceiro fio nunca foi tecido.

domingo, 11 de dezembro de 2016

sucuri, jiboia


poética

herberto helder orava ser sempre um poeta obscuro, eu de acordo com e toda encruzilhada no rigor do claro enigma, peço para as 7 ondinhas todo ano saltando que elas me banhem de ingenuidade, delicadeza, ambiguidade e humor. às três ondinhas que sobram eu digo assim: todos os dias da minha vida mantém meu coração ingênuo perpetua o que eu não sei e me faz esquecer o resto. depois meto minha visão de raio-x na cabeça, pérolas nos ornamentos e começo a assobiar. quanto mais perto o verso estiver do assobio, é nisso, um dia eu ainda chego lá.

sábado, 3 de dezembro de 2016

quando você foi embora
não foi nem que eu quis morrer
eu morri
com um livro da clarice nas mãos
(era época em que eu sofria com livros nas mãos
hoje levo um celular
e tenho 2 dedos da mão direita ficando com tendinite
pelo peso do que carrego
todos os dias)
para o jardim botânico
fui ler "amor" no jardim botânico do rio de janeiro
onde "amor" se passa
eu chorava desalmadamente
eu me arrastava pelo chão
me contorcia em cima das rosas
só espinhos e dores de estômago
tinham as rosas naqueles dias
até hoje eu não entendo
o que me abismava tanto
no desejo que sentia
medo mais nenhum
um tremendo um infindo
 

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