domingo, 7 de maio de 2017

Áries



gostaria de ter postado este texto enquanto o Sol ainda estava em Áries. mas 15 dias atrás eu estava derrubada pela força da juventude da minha nova vida. coincidentemente, tinha acabado de acabar o trânsito de Urano em Áries quadrando o meu velho Sol em Capricórnio e eu estava de rastros, literalmente de queixo caído com a quantidade de novidade do atual.

aprendi e aprendo muita coisa com Áries. a reconhecer o que é simples pela sua unidade, a não me preocupar tanto, a ligar o foda-se, a fazer sem entender. também aprendo algo que nunca sei o que é, porque quando me atenho a observar, já é um novo instante. Áries é ágil.

Áries o intempestivo, o imediatista, o fogo do princípio, sempre a começar. de novo. e de novo. com seus dons enérgicos, vitais, agudos. o Carneiro é a faísca do zodíaco, existem aqueles que são um fósforo, riscou acendeu e ariano que se preze vive na base do bateu levou.

costumo brincar, em leituras de mapas de pessoas com ênfase em Áries, dizendo: "na vida você vai passar dez mil vezes pelas mesmas coisas achando que é a primeira vez . os conservadores ao redor vão te dizer: 'mas você não aprende?' — e faço a sugestão de que respondam: 'aprender? pra quê? se é sempre a primeira vez!'". e lá vai Áries, dar de cabeça nas coisas. Áries rege a cabeça. li certa vez que isto é porque a cabeça (costuma) sair primeiro no encaixe entre bebê e mãe na hora em que se nasce. Áries está sempre nascendo.

e com que integridade! íntegros a si mesmos, poucos signos são tão associados às noções de rebeldia e descontrole perante às normas. é que Áries está muito antes de qualquer regra, os Carneiros ainda nem passaram pela sensação de ser um corpo que virá em Touro, e assim estão bem antes da linguagem de Gêmeos. antes da sintaxe, os Carneiros estão pra fora de qualquer regra e toda pessoa de Áries se envaidece quando ouve dizer: você é instinto. e instinto, todo mundo sabe, é o imenso componente do desejo. calor e humor.

imperativo desejo, Áries é a morada diurna de Marte. sensuais, sexuais, arianos são vitais. serem regidos por Marte dá em alguns belicosidades descontroladas, ou em artistas do lutar em movimento, a audácia de guerrearem guiando uma biga carregada pela força de dois cavalos: o condutor Áries é cada faísca do animal que é e que age antes mesmo de pensar. às vezes eu acho que Áries sente tudo diretamente no sangue, e quem duvidar lembre-se da última vez que viu um ariano sair do sério.

que se deixe a alteridade para o seu oposto complementar, que Libra procure a harmonia, o que Áries tem não é preciso procurar. existe, está e é: o oposto do outro: Áries é o eu. o tão-único-e-somente-eu-mesmo Áries é uma criança, uma criança antes da intrusão de qualquer sociedade. antes das normas estão as demandas, arianos são capazes de fazer tudo sozinhos e do próprio jeito (e prezam a independência como poucos) e podem ao mesmo tempo ser tão sozinhos quanto demandantes. quanto mais incivilizado é um ariano mais ele parece uma criança carente de atenção e quanto mais carente um ariano está, mais incivilizado ele será.

aventureiros que desconhecem o risco ou que fazem do risco o combustível da sua jornada. enquanto outros calculam, Áries já foi. Carneiro abre caminho. embora Peixes seja a antena da espécie, o insight também é ariano. velozes, radicais, conquistadores. são o fogo do princípio, o louco na beira do precipício, o começo, o acesso, o aceso, o primeiro. a ingenuidade os protegerá.

únicos, afiados e singulares, arianos podem conhecer como ninguém a margem que há entre o egoísmo e a integridade. belos questionadores são os arianos que indagam: eu quem? e olham pra si mesmos de forma a encarnar o prisma de instantes que são. quando gostam de si mesmos e se observam na multiplicidade de instantes que são, arianos reluzem algo tão genuíno como a descoberta do fogo.

terça-feira, 2 de maio de 2017



hoje transplantei umas espadas de são jorge
conheci ouvindo uma mulher que era visitada por anjos tão altos no século XII que padecia de fraquezas
foi santa beatificada sua voz
cantou nos meus ouvidos
a vida de três mulheres com quem conversei sobre suas vidas
vi você virando paisagem
não soube lidar com esse vento sem mãos
e receber o outono é um nó na garganta atrás de outro
risco de tétano nas tectônicas camadas que trazem as estações
se no outono o que me resta é tomar chá
tomei o chá de tília que veio de Lisboa
pela última vez percebi mil coisas e as perdi pela última vez percebi que não será a última vez
faltou tempo pra comprar água pra tomar com limão
eu fervi meu tempo a esperar por alguém que não vem
antes de me deitar no espelho
reparei no comprimento desde meus 20 anos
quando eu ainda os usava presos
eu não tinha o cabelo assim tão comprido
minto tive aos vinte e cinco
quando os escorria nos ombros
de alguém eu riscava a pele
de nem sei mais quem sou
mas eu me lembro

segunda-feira, 1 de maio de 2017

só mesmo o outono tem capacidade de me deixar triste
como você eu não conheço com tanta elasticidade
alguém no vai e vem além de mim
que sou capaz de quebrar um osso
tanto meus músculos se alongam
na sua direção eu fiz a sugestão 
de que nos encostaríamos tão rentes
de pulmões cheios que estávamos
cheios de potros as cavalgadas duras
as estações nunca vem sozinhas
você virando paisagem
à noite depois de ter conversado
com a minha própria capacidade de me sentir
só um ponto no espaço a ouvir uma mulher
do século XII ouvia anjos tão altos
que lhe tiravam a energia do corpo
ela adoecia eu padeço
espécie de rito culto ode a solidão dignificante
já não me lembro carícias iluminação
completamente o significado de certas coisas
volto atrás apagar quem fui
estou dando marcha a trás
sou verdadeiramente incapaz
de lidar com este vento sem mãos
 

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