segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

north country far

sobretudo a diferença de que não pode ser diferente. que lugar é esse? tão diferente do que eu já tinha me acostumado. e o mesmo, tão coerentes as coisas são. escrevi um belo parágrafo sobre a literatura. agora anoiteceu e tenho vontade de desaparecer. com o frio das coisas, todos os objetos tomados, eu nesse esquecimento também.

saí pra andar. o fim de semana me trouxe de volta à errância. tomando meu corpo. um novo Portugal que é o mesmo, voltei. e estou acostumada. olho as placas e já as reconheço. saí de Portugal era um outono que eu tinha vindo procurar um verão. agora cheguei de novo, e é inverno. todas as coisas estão desfeitas de si mesmas, parece que com isso ganharam uma nova identidade, que é nula, porque é a liberdade de só ser.

leio na loja de ferramentas

COPIAMOS CHAVES
INCLUSIVE
PARA AUTOMÓVEIS

percebe? tanta coisa por todo lado e as chaves-de-fenda que não abrem o mundo. pra mim, meu mundo. veio desse lugar, dessas cópias de chaves. e agora que eu não te daria mais a fórmula mágica que pudesse abrir-te? estás do meu lado.

no chão do miradouro de portas do sol picharam

NOSSA RIQUEZA  ESTÁ NAS NOSSAS HISTÓRIAS
NÃO NOS NOSSOS BOLSOS

lida no meio do meu dia tentando explicar porque a história é tão importante no pensamento do roland barthes - e após um domingo onde mais de 50% dos portugueses não foram votar, teve assim, digo: impacto de silêncio e a vontade de escrever embaixo TAMBÉM RESISTIREI AO TEU LADO

não encontro mais aquele lugar

e o corretor do word me disse hoje duas vezes, em citações do rolandzinho: "verifique se na sentença não há problemas de gramática". mal sabe o quanto acertam, esses gajos das aplicações.

imagine então chegar no brasil daqui uma semana. acho que vai ser assim: uau.

depois vai ter também

UAU UAU UAU UAAAAAAAAU

e em frente a Sé de Lisboa me pergunto se as placas no português do Brasil vão me soar estranhas se eu já me acostumei com a (precária) publicidade portuguesa.

subo a rua meu joelho dói. penso que essa foi a bota desse inverno, como o tênis com pêlo o do inverno passado. e o coração continua. lindo isso:


As pestanas a arder. No peito lágrimas contidas,
Sem medo sinto que será, que será tempestade,
Depressa, há algo a esquecer - alguém estranho me instiga.
Mas eu estou morto por viver - o ar tão abafado.

Soerguendo-se do catre ao primeiro som do dia,
Olhando à volta absurdo, estremunhado, sonolento,
Assim recomeça o forçado uma canção bravia
Ao romper da aurora no prisional acampamento.

Março de 1931, Ossip Mandelstam.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter