quinta-feira, 28 de outubro de 2010



não sei se é bobagem, mas cada vez mais acho que as coisas são como acontecem, as mais cotidianas coisinhas. os encontros desmarcados, os caminhos escolhidos, os sonos bem dormidos. talvez isso seja  calmaria no meio de um mundo escorado pra se terem expectativas e ao mesmo tempo que vou ficando mais torcível, isto é, maleável, também mais levo sem revidar. talvez tudo seja mesmo uma questão entre dureza, duração e amabilidade. amar a habilidade de durar, amolecer, encobrir os astros de sonhos que depois se aceleram em frases, precipícios. o risco disso é que várias vezes eu acho mesmo que está tudo bem, mas alguém há de fazer justiça, que depois não era bem assim que eu estava. tenho como céu aquele precipício dentrão, em escorpião. de todo modo, amanhã um tanto antes do almoço tem encontro pra gente conseguir a casa mais gira de Lisboa, então eu vou dormir, porque o mundo gira, a Lusitânia roda e eu aqui, já é hora, adormeço.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

a única coisa que tende a não mudar é o movimento - - - quando eu tive um blogue que era o samba sobre o movimento eu já sabia disso (e assim me orgulho de mim mesma jovenzinha), se é que a máxima é uma verdade, que valor disso, pra mim, ela tem.

dos barcos, movimeeeeento, aquela música-sofrimento, que eu doía até não mais poder na primeira vez que sofri (mesmo) por amor. eu tinha 21 anos.

as coisas que a gente conta só por contar. e as coisas que as pessoas transformam em regra só pra ter uma prática de vida, um resguardar. acho a primeira situação melhor que a segunda. se bem que ao lavar a louça a segunda me orienta.


passei a tarde lendo o al berto e agora a noite na adélia prado. o melhor dos livros de poesia é isso, que 5 ou 10 poemas fazem dez minutos, ou uma tarde inteira. ou uma tarde inteira de leitura que pode ter 10 minutos e parecer uma tarde inteira.

a vida é muito pra ser pouco e passagem. movimento, movimento, arde!

vou me cobrir e dormir e amanhã acordar menos tensa. porque estou tão tensa tão tensa que travei.
 qlec, um dia quebro no meio essa rocha toda e te envio de envelope só a saliva.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

fulminante

crescer é tão brutal. como naquela manhã, ao sair da tua casa, em que eu descobri que te amava. acordamos um em cima do outro. depois falamos de duchamp. e de repente você fez um discurso comentando que não era o melhor como parecia se achar, que não era arrogante, como eu te achava. então nos levantamos da cama, aprendi a comer o melhor iogurte do mundo, e fui embora. era domingo. a cidade parecia toda plana e eu tinha dormido cinco horas. naquela manhã eu tinha te encontrado em mim. era eu a cidade, meu amor.



então, quando você se endurece mais é um golpe de cintura como brota feito flor em um vasinho de barro em cima da mureta que o rabo do cachorro derruba no chão branco e a terra se espalha,  eu tantas vezes bruta, então me impressiono com a minha delicadeza.
 
tem algo em aberto na minha vida muito em grande nesses últimos momentos.
e é como se eu sentisse o bafo disso, um bafo de estrela, diariamente.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

capítulos verossímeis e capítulos verdadeiros

meu psicanalista é ex mas é das pessoas mais importantes da minha vida. ele me dizia que eu tenho dificuldades pra conter as coisas. fiquei pensando nisso agora e pensei que dava pra fazer um capítulo com subtítulos. os subtítulos teriam por sua vez alternâncias entre pontos só verossímeis e só verdadeiros.

(só verdadeiros me pergunto o que quer dizer isso - - será que posso perguntar se só verossímeis também que sentido isso faz? O.O) (pra confundir o público: ou: lunação de libra: compartilhe a dúvida com o cosmos)

jch: o que chorei, o que sorri, o importante é que emoções, bem, eu vivi (título do livro ou epígrafe da minha vida de escritora latino-americana)

capítulo: CONTER E CONTENTAR

a) o amor, as declarações e os subterrâneos
b) diarréias e narizes que escorrem (creio que menstruações tb podem entrar aqui?)
c) escrever, esse diabólico diário.

domingo, 17 de outubro de 2010

dos sonhos eu sou o amor

uma entrega mesmo ao que é vivo / ou o aprendizado de me preparar pra nunca estar preparada.

- - -

certos lugares que a gente nunca imagina que vão se inverter, de repente estão, invertidos.

- - -

ou tudo é uma questão de pedir (e não pedir): por favor, me ame.

encontros

você pode ser a pessoa certa para a pessoa errada; a pessoa errada para a pessoa certa; a pessoa errada para a pessoa errada; a pessoa certa para pessoa certa  - - - e tudo isso pode não coincidir reciprocamente. ou seja: 

ao mesmo tempo que  você pode ser a pessoa errada para pessoa certa, ela ser a pessoa errada para você, a pessoa certa. ou seja acontece uma espécie de colisão entre errados e certos e você fica absolutamente baratinada por saber que é errado e é certo. e depois de se desiludir não com alguém em si, mas com o amor e a sua grandeza emocional, não consegue nem explicar no seu próprio blogue mais uma teoria fajuta da sua série "agora que sou sincera" e/ou "tenho sempre amor".

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

com louvor

hoje desisti de três idéias que me pareceram fundamentais nos últimos meses e dividi ao meio um rolo de 30 metros de papel kraft com uma faca de pão. ficou reto. e as idéias, ultrapassadas. só o coração que continua. e eu vou dormir que a imaginação é uma corrente sangüínea, o pensamento é um músculo, e A CIDADE SOU EU MEU AMOR
.







não sei pra onde
dizem vão essas placas abandonadas
nem porque elas ficam assim
penduradas

pulsação e água

faz dias que se me distraio a pálpebra esquerda vive a pulsação do corpo como se o coração tivesse migrado para um hemisfério de cansaço da imagem. ou que o único jeito de amolecer a pedra que estou é um banho de banheira quente antes de deitar.

quando eu era criança aprendi a misturar a temperatura da água. é importante jogar a que está no fundo para a frente, ou o contrário. 

quando eu era criança, 8 anos?, me levaram num médico porque eu sofria de pontadas no coração e insônia. o consultório tinha um jardim interno que ficava separado por um recanto de vidro blindex, e o chão de seixos de rio e bambus que subiam ficavam por lá. o médico fez uns exames. me mandou comer mais proteína, por conta das pontadas no peito e as manchinhas brancas que eu tinha nas unhas. e pra insônia me recomendou banhos muito quentes antes de dormir. lembrei ontem.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

farewell

desconfio que a senhora que mora aqui em frente, morreu. então, a senhora que morava aqui em frente. dias atrás quando fui estender roupa reparei que as plantas que ela sempre rega no canteirinho na janela pendurado estavam secas. depois os pombos que ela alimenta começaram a não aparecer entre os fios do estendal. ontem saí pra comprar um chocolate no meio da tarde de (tentativa) trabalho e as portas da casa dela estavam absolutamente escancaradas, com os objetos agrupados em grupos de similares (garrafas com garrafas, papéis com papéis, louças com louças) e duas mulheres gritando lá dentro com dois pedreiros ucranianos que vi subindo as escadas mais cedo.

toda vez que eu a encontrava nas escadas do nosso 3o andar (e lembro de uma vez encontrá-la saindo de casa, desci, fui até o banco e quando voltei ela tinha alcançado a porta de saída) ela (de quem nunca soube, infelizmente, o nome) conversava animadamente comigo, sobre qualquer coisa que encontrasse. no geral um modo de reclamar da velhice de maneira bem humorada. e ria me contando "quantos? adivinhas? 94 anos!" .  ficou tão feliz quando percebeu que eu comecei a namorar e quando nos encontrava juntos é que mais falava. e de repente exclamava "oh my god!" ou "what a shame!". era inglesa, minha adorável vizinha cheia de humor e ternura. god bless her soul!



sonhei com andar procurando o aeroporto pelas ladeiras que mais pareciam labaredas de tanto que não podia parar, ruelas ruelas. então encontro o aeroporto improvisado dentro de uma tenda de circo. minha mãe me telefonava pra que eu organizasse as coisas. eu ia para a bahia, encontrar meus pais.  então ainda tinha que trocar meus bilhetes, em outro lugar, mas faltavam só 10 minutos para o embarque. eu corria, corria, começava a chover. troquei o ticket por uma passagem, sentada numa mesa de aros verdes metálicos, com uma senhora que não gostava do que fazia e quando agradeci se surpreendeu. então desci as escadas correndo, fiquei molhada de suor e água, e lá estava de volta ao aeroporto, quando acordei.

 


#

Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir.
Hei de aprender com ele
A partir de uma vez
– Sem medo,
Sem remorso,
Sem saudade.

(Bandeira)



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

agora mais sentimental

Talvez seja a idade, talvez o deserto, talvez o recesso, talvez o rancor?
Quem sabe o carinho, quem sabe pro Nilo, quem sabe em viagem, quem vai de regresso?

Quem quer o que planta, quem come o que morre, quem vive o que dá?
Quase o que sei, menos esqueci, mais me criei.

Será amanhã, por que não ontem, virá o que fui e trará desde o fundo
O musgo a bóia o resmungo a corja a vespa e a várzea que é meu coração.


Bom mesmo será me apaixonar e fazer bobagem pra sempre.
Do amor, herói.

Ao Sr. Fernando

Passei o dia desenhando sobre o Sr. Fernando Pessoa.
Estou tentando alguma coisa honesta que acabe enfrentando as coisas.
Porque há fantasmas demais nesse mundo.
E nossos motivos fazem as coisas não funcionarem.

O Sr. Fernando Pessoa gosta imensamente de mim e garante que o Sr. Ricardo Reis teria gostado imensamente de mim se tivéssemos nos conhecido na temporada em que vivemos respectivamente em nossos países trocados.

O Sr. Fernando Pessoa por mais que tentasse, o Sr. Fernando Pessoa não acordava diariamente e pensava SOU PORTUGUÊS ao comprar pequenas coisas e discutir trocados. O Sr. Fernando Pessoa se ouvisse a minha língua, 

Não sei o que o Sr. Fernando Pessoa consideraria ao saber que nenhum brasileiro ao ouvir "o brasileiro" pensaria em algo além do povo ou de um indivíduo, e que nunca (a não ser a viver em Portugal), nunca pensaria que o "brasileiro" pode se referir ao idioma falado no Brasil. Será que Sr. Fernando Pessoa em seu escondido sem profundeza sentiria uma ponta de orgulho ao saber que falamos (nós?) português?

Ao Sr. Fernando Pessoa ergueram-se monumentos os monumentos ao Sr. Fernando Pessoa.

Também estimo o Sr. Fernando Pessoa e faço votos para que o Sr. Fernando Pessoa encontre o Sr. Fernando Pessoa a cantar com o Sr. Fernando Pessoa enquanto bebe um café com o Sr. Fernando Pessoa vestindo uma camiseta do Sr. Fernando Pessoa e pense Ah! bom mesmo era o Sr. Fernando Pessoa.

o Sr. Fernando Pessoa foi português.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

temporada chuvão 2010/11

chove agora em Lisboa como se uma faca cortasse o mundo ao meio.
como um rio que se instaura, um sonho que já morreu. foi mero caminho de não ir.

chove em Lisboa como se abrissem um lençol escorrido no céu porque cada gota de chuva cai de um lugar diferente. aos olhos é aparentemente a mesma, mas o ritmo da chuva aqui é diferente.

um esquadro traça que o ritmo é mais alternado do que constante, mas isso entre um pingo e outro; será que consigo ouvir um pingo e outro?


que país selvagem!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

perda e posse

no fim de semana sonhei com um assalto. que estávamos eu e alguém (talvez, o b?) sentados no parapeito de uma vitrine e passava um carro muito rapidamente na nossa frente e apontava pra mim a direção da esquina, tipo "se liga". em meio segundo apareceu na esquina um cara com um revólver apontado pra nós 2 e pediu a minha carteira, que abri ainda dentro da mochila e joguei o cartão de crédito no fundo, e dei a carteira. daí prenderam o assaltante e o sonho ficou com as cores do 'the wrong man', do Hitchcock, que assisti recentemente. no filme o Manny (o Herny Fonda) é acusado de uma série de assaltos que não cometeu. então no meu sonho o assaltante ainda era o Henry Fonda,  estávamos todos em tribunal, mas dessa vez ele era culpado e estava sendo julgado como se não fosse.

*

essa noite sonhei que ia para um casamento vestida com um micro-vestido curto e descalça. ia andando pela margem de uma grande rodovia e estava tudo verão. de repente percebia que precisava de sapatos e que iria escurescer e esfriar. encontrei um Frango Assado desses que ficam na beira das estradas do interior de SP e tinham muitas lojas, stands improvisados de roupas. tudo muito excessivo de dourados e cores fortes. eu não tinha dinheiro? me sentia cada vez mais nua, mas precisava de sapatos e eram todos muito coloridos. encontrava um tênis lindo que super ornava com meu vestido e ficava chic e prazeiroso daí eu ia pagar e a mulher me dizia 500 euros. e eu não podia, claro. daí começava a me preocupar com o frio, com o frio.

*

dadas as últimas circunstâncias, acho que sei mesmo interpretar o que é ter a lua em touro na casa 2.
"Dizem que Goethe escreveu e re-escreveu os seus poemas. Leonardo era mortalmente paciente diante das cores. E que sabemos dos outros, os mais antigos? Tudo é eternamente recomeçado. Não se sabe o que acharam. Acharam alguma coisa - os antigos, os modernos?"

Herberto Helder no "Descobrimento" d'Os passos em volta.
 

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