terça-feira, 25 de setembro de 2012

resumo


Ainda não foi desta vez.
Torna-se um prazer, então consigo.
De percalço em percalço a gente faz um salto.
Encontro no ar palavras melhores do que neste resumo.
Tomada de sobressalto:
A tradição despede-se mais uma vez.
A tradição literária precisava de um novo autor,
sou eu, vim suando muito, camelo sou.
Faça de mim seu oásis, nome de motel, estrela no céu.
Cada poeta forma uma constelação própria e se apropria
de si mesmo, dos outros, dos gatos, dos cornos, das águas
das águias, das algas, dos mofos, dos ácaros, das visitas.
Cuidado! Visitas, não deixem os óculos no sofá, que hein,
hein? Eles sentam em cima. Eles sempre chegam?
Não sei, mas tem que ser hoje. Os dias foram contados.
Os prazos estão de pé.
Trouxeste o arpão?
Você vem com os peixes, eu abro as guelras
enfio pérolas lá dentro, até explodir de tanto luxo.
Juro que eu não presto. Você também
precisa saber se inventar. Ou, adeus.
Ok, permaneço. Sou a tradição
se me destroem, vou parar em outra
outro lugar. Sou a gordura
entre os ossos que os homens roem.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

eu e meu fatal lado direito

uma história cavalar!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

das coisas que mais conheço: a gripe

desta vez a gripe entrou aos poucos, na percepção claríssima deste corpo, senti o céu da boca ardendo terça à noite, quarta o calor do céu tornou-se o frio do corpo, e o muco transformou-se em via aérea para saída do vírus-frio. ontem então tratado o frio do nariz migrou, senti o vírus entrando na carne e ficando denso, dolorido e vermelho, por dentro dos músculos. então tremi, tremi. o suor da noite, dez horas de sono, criou saídas e hoje um pouco de tosse, a garganta arranhada, não foi desta vez que o vírus partiu meu coração. quanto suor ainda há para desfazer. 

nome do homem

misturei o teu nome com o de um antigo amor que você detesta. você tinha o nome dele, que também é do herói da revolução, e nesta sobreposição de tempos e nomes, havia um sentido tão grande, de que era você que eu procurava, desde os idos que não voltam.

domingo, 16 de setembro de 2012

o ps do antes de ontem

é que meu tema é "tradição" e que o prazo termina ainda esse mês.

de antes de ontem

havia um gramado, relvado de futebol, daqueles montados sobre um descampado, cheio de pequenos relevos e tufos faltantes e pequenos arbustos misturados. acho que misturei um que vi em castro marim, com aquele da infância, atrás da escola de aplicação. eu cultivava o campo. ele era seco com cores amareladas, gastas pelo sol, e alguns novos tufos também. não discriminava o velho do novo, para tudo haveria espaço de crescer. mesmo as ervas daninhas, para elas dava a vez. depois de muito tempo com pás e baldes, rastelos e vassouras, mãos na terra, o campo era meu e de quem quisesse ver. então aparecia um par de sujeitos com uma máquina de cortar grama. o cara olhava e me dizia que tinha vindo cortar meu campo. eu ficava calma, mas indignada, tanto trabalho! e o convencia "pelo menos me deixe tirar o meu trabalho, isto é minha dissertação". e o gajo dizia "okey". fui para uma das extremidades perto de um gol, e como num decalque de adesivo, sutilmente puxei o meu trabalho. saiu como uma esteira de vime, mas muito longa, do tamanho do campo de futebol. e  a palha era transparente, escritos por cima em azul. longuíssima e enrolada, a esteira do meu trabalho era levíssima, e a levei por debaixo do braço.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Tétis


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

o imperioso trabalho de fugir

a poeta e sua velha luta com os hormônios trilhavam o caminho da espécie. alguns, outros, estavam mais interessados em constelações. mas em constelações enquanto figuras do acaso & a poeta gostava das constelações enquanto materiais para a construção de espelhos. pegou do rabo de um cometa um pedaço - com a mãos partiu - e fez um espelho. então viu o próprio nome no espelho. ele estava se apagando, como acontece toda vez que o desgaste permite*. considerando tudo entre aqueles dias muito pouco displicente, a poeta pegou suas coisas, guardou numa mala, guardou a mala embaixo da cama e dormiu. que maravilha!

* o desgaste é um rei que dorme de cuecas. na próxima vez talvez ele durma nu. por enquanto, ele as aprecia. 

sábado, 8 de setembro de 2012

setembro, o terrível

setembro, o terrível,
divisor de águas
chapa de metal
abrindo a comporta
desconhecido, desconhecido
com um par de esporas
abre a garganta
azul
a gaivota que tem língua
que me disse que tem
pausa, manhã. o mundo dos mortos é meu, o cansaço, o regresso ao mundo de dizer as coisas sem farol. eu trouxe
minhas mãos, manhã do mundo.
sou capaz de tanto, desconfio
que de tudo. comer moscas por acaso,
matar mariscos na frigideira,
tirar os casacos da gaveta
lavá-los antes que chegue o inverno.
três pacotes de kleenex
e a bahia em janeiro.
se tudo for
um cursor
para dizer
entre dizer
(carolina hoje faz trinta anos)
se tudo ajudar
o júri macio
o coração macio
os pelos da barriga
a bacia solta
meu amor.

bobeira é não viver a realidade

como vocês podem considerar natural recortar textos de outros e colar, na tua parte, em toda parte, aqui? ou a cara da minha gata (nossa gata) me olhando enquanto tomo banho. todos os gestos do teu dia-a-dia tomados por outro ser. não há mais solidão, quando você se apaixona. porque é ou estar junto, ou estar na ausência do outro. recorda o dia em que não era assim. que você podia escrever o dia inteiro, não que hoje você não possa, mas você escreve outras. a vida é tão estranha, gata, tão estranha.


escrever ouvindo o outro, dizendo o que ele disse, rebatendo. escrever como quem se escuta, afinal. e conhece o arranjo de flores que tece, uma a uma, em uma espécie de guardanapo. as marcas do papel que eu uso para limpar a boca se chama espécie. disse-me o poeta. eu também, não aprendi a amar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

será o outono capaz do degelo sentimental?
começar sem ver, a repetição do fim,
ansiosa sempre de o perceber
capaz de pular o lago de patinação
roubar as rodinhas do perseguidor
da tua parte há também dois roliços
um erro de alcatrão, pelos dias estendido
o outro é mesmo espatifação, a minha
de cara no gelo, criando muro.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

tenho medo de dirigir

atravessávamos de carro um viaduto, quando perguntei pro meu pai "o que quer dizer metafísica?".
também foi em um carro que percebi que tinha aprendido a ler, num outdoor no fim da rodovia.
também foi em um carro que meu pai me ensinou a cantar "desafinado" e "baby".
tradição & família. eu sei que é assim.  

domingo, 2 de setembro de 2012

o caule da alegria

"Se falta vida à nossa cultura moderna, é porque é impossível imaginá-la sem esta contradição, ou seja, não é uma cultura autêntica, mas uma espécie de conhecimento do que é uma cultura."

"Esse famoso pequeno povo, de uma antiguidade bastante recente - refiro-me aos Gregos - conservava tenazmente, no período do auge da sua força, o seu espírito não-histórico. Se um homem de hoje pudesse, por virtude de qualquer sortilégio, regressar a essa época, exporia à irrisão pública o segredo ciosamente dissimulado da cultura moderna. É que nós não possuímos nada de próprio; tornamo-nos algo de considerável, quero dizer, enciclopédias ambulantes, quando nos enchemos das épocas, dos costumes, das artes, das filosofias, das religiões e dos conhecimentos dos outros, como diria talvez esse velho Heleno se por acaso tivesse sido transportado à nossa época. Mas o valor das enciclopédias está apenas no seu conteúdo e não no invólucro, na encadernação de coiro; é desta forma que a cultura moderna é essencialmente interior; no exterior, o encadernador inscreve qualquer coisa como 'Manual da cultura interior para homens exteriormente bárbaros' ". 

"O homem que procura compreender, calcular, apreender, no momento em que deveria fixar na sua memória, como um longo sobressalto, o acontecimento incompreensível que o sublime constitui, pode ser considerado inteligente, no sentido em que Schiller fala da inteligência do homem inteligente; há coisas que uma criança vê e que ele não vê. Não será capaz de ver o pormenor único, exactamente o mais importante, porque a sua inteligência é mais pueril que do que a de uma criança e mais vã que a de um simples de espírito, apesar das numerosas rugas da sua face manhosa e encanecida e das suas mãos hábeis para desfazer as redes mais complicadas. Resulta isto de que, tendo perdido e destruído o seu instinto, ele não ousa soltar o freio do 'animal divino' quando a sua inteligência vacila e o seu caminho passa por desertos. O indivíduo torna-se então timorato e hesitante e perde a confiança em si; dobra-se sobre si próprio, sobre a sua 'interioridade',"

"A filosofia não tem direito de existir no interior de uma cultura histórica se pretender ser algo diferente de um saber confidencial e sem acção."

das "Considerações Intempestivas" do amiguinho Frederico Nietzsche,
mariposa rondante lâmpada. 
tradução de Lemos de Azevedo.    
 

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