sexta-feira, 2 de novembro de 2012

os ingleses

voltei a sonhar, faz duas noites que sonho. essa noite sonhei com a peça de teatro que estou tentando escrever. espécie de prova de que a fertilidade não me abandonou. e também de que a ofuscação significa só o que significa, a necessidade de aceitar e desanuviar. desanuviar emblemas, desanuviar. fazer das nuvens, nuvens. só. mas derrubar a barreira, não aceitar que o disforme se torne a forma do que eu acredito. porque não. 
dizia Eliot que entre os românticos e os clássicos, ele era pelos clássicos, e devemos lembrar que tal embate é uma invenção romântica. 
estou numa questão dessas com a forma da escrita. os signos de ar e fogo talvez lidem melhor com o imprevisto e os de água desejem o disforme. mas, não se enganem, o meu delírio é muito calculado. quem pensa que o que escrevo é surreal está sendo lido no que lhe falta: imaginação. isso sim, tenho demais e excessiva tendo à imaginação, desde criança. sempre pude passar horas imaginando sem tomar um ato que fosse para corporificar aquelas histórias. depois o sofrimento apareceu, e a corporificação nasceu, penso, da necessidade de não ser das trevas. porque tudo que a imaginação é fértil e iluminada, ela é da escuridão. só na quente escuridão as coisas são gestadas, e as pálpebras de um recém nascido que se abrem, provam a luz como um fruto. depois o fruto nos esbanja, escorre seu líquido pela face de cada um, e há quem faça do fruto o seu veneno. 
eu, por exemplo, que sempre quero entender, até o ponto da tristeza de entender que não é possível entender. hamlet, por exemplo, sofreu tanto, tanto. e um gato atravessa o telhado da casa ali em frente. quisera ter no pensamento as espumas que os gatos têm nas patas. quisera ter o pensamento de um gato. mas, atualmente, com nada me identifico mais do que com a tormenta das personagens que se atormentam por entender.   
o pensamento como uma bolacha cracker, de água e sal, somos feitos.

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