domingo, 21 de dezembro de 2014

reza

entre os finais de ano: o verão.
ressuscitar como o menino que vão comemorar
esquecidos do menino que foi.
o poeta alberto caeiro tinha uma flor entre os dentes e disse algumas coisas a esse respeito.
numa luz eu (também) vi a virgem: mas tive medo.
sua luz era intensíssima, brilhante navegava
o azul e o céu. o azul e o céu são de quem?
do condor, do avião, do contorno dos teus olhos.
ouvi um homem dizer na rua na frente de casa mesmo atravessando no nosso portão
o homem disse ao telefone: "é a época do ano, má, é pesado".
desconfio que "má" do outro lado era marília
marília que não conheço
que o apelidava de olhos fechados: poeta.
era quase natal e dirceu,
com seu cotovelo levantado a segurar,
o celular no ouvido dirceu lembrava
com a ajuda desse gesto de cotovelo que ajuda a lembrar
que todo mundo sofre
que a família sempre tem excessiva memória
que o natal nos lembra do que não temos
que estão todos ausentes mesmo presentes
que estão todos presentes mesmo os ausentes
faz senhor deste repetir uma oração
que estão ausentes todos os presentes
que é porque ficam tão presentes no presente
no presente dos seus passados
(em comprar presentes nem se fale da
falta/ do excesso/ da escassez / do retrocesso)
que é porque todos os seus antepassados
viajam para ocupar os corpos vivos
(é este o primordial motivo para que no hemisfério norte se comece o inverno
e no sul o verão, assim, ao mesmo tempo e cruzado, pois nesta noite os mortos abrem uma fenda no vácuo das galáxias e a terra desloca-se)
e é por isso que as pessoas bebem tanto,
comem tanto, brigam tanto
no dia da natal.
é tudo corpo velho em gesto antigo rebocado no futuro deste agora:
dá um tranco: os antepassados precisam se alimentar.
"não é nada a ver não, má",
disse o dirceu
que vai dar de presente pra marília
nenhuma maldade
vai dar um danado
amor. pra durar no dia mais longo do ano
ouvindo aquele sempre do bem, o bom, o baden.


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