domingo, 17 de maio de 2015

sopraram na véspera da lua nova um pedido.
os sonhos nascem da memória que temos.
alguns, entre os mortos, diziam: existe a memória do futuro.
*

algumas coisas se projetam — outras se catapultam 
*

preguei um mapa da situação fundiária indígena deste país na parede. quem me deu foi o poeta que admiro. eu já tinha tentado colar com materiais diversos. o vento sempre o derrubava. hoje: 4 pregos. o quarto entortou e eu achei bonito o entortamento, gosto de ver o acaso entortar as coisas que faço com tanta delicadeza. minha intenção sempre mais forte do que a minúcia. meu amigo também vai gostar de ver quando vier aqui. espero que o veja naquela determinada estação do ano — me esqueci qual é — em que a situação fundiária indígena toma o solzinho morno do fim da tarde.
*

no mais que famoso extrapeso emocional que, vez por outra, me invade
corpo & espírito
de chumbo
estanque até o degelo.
*

um sacerdote trouxe determinada fúria de fogo, e o fogo ardeu o topo
e abriu-se um iceberg em dois.

um portal, certamente foi.
com ele se via alto o céu e a forma mais nutrida de terra: o continente.
imaginado, o continente não foi visto.
o céu era tranquilo, azul, iluminado: diria-se que: perfeito.
as labaredas também.

no entanto, os icebergs não derreteram.
havia entendido que a separação que abriu o fogo neles significava abertura.
a diferença entre erro e equívoco reside em cada sutileza.
me foi importante acreditar, não foi um erro.
agora vejo que os dois icebergs, não sendo mais um, diminuíram de tamanho, mas não desapareceram.
que as labaredas os entreguem aos céus e ao mar, que invadam em degelo a terra
e a umidade do meu gelo possa comover alguém.

*

tempos em que se confunde pessimismo com verdade, e aqueles que se carregam de verdade estão pessimamente tristes. tempos em que os pessimistas portam a verdade de se considerarem os mais lúcidos, tão lúcidos que tombaram nas costas da lucidez: tão perto da luz, só enxergam escuridão. entre os que riem, tantos ácidos, corrosivos, que chegam a corroer os próprios dentes, balbuciam, perderam a língua, já não sabem falar. alguns, sensíveis de humor e de espírito, foram simplesmente varridos pelas manadas de informação. a maioria não está nem uma coisa nem outra, são os distraídos. já os que estão otimistas também são os mais místicos: são dançarinos, acreditam em analogias, falam por metáforas, trazem códigos antigos lavados & novos entre despojos sujos. alguns adoram objetos mágicos como a poesia, seres como cristais, creem em movimentos como os dos astros. todos entre todos, claro, exageram, se misturam, perdem a cabeça e não ousam o suficiente. entre os taciturnos não estou, mas nutro grandes esperanças. 

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