terça-feira, 7 de julho de 2015

a indústria diz eu curo e o poeta? ai que escuro!

escrevam poemas como quem vende pirulitos
enquanto as farmácias vendem drogas mais convincentes
com a desculpa de matarem bactérias
escrevam mesmo escrevam mais escrevam
ai eu fiz isso aqui mas isso aqui não serve para nada
talvez sirva de cortina
mamãe eu trouxe um poema talvez sirva de bandeja?
ou o julinho, ali atrás? o desocupado; peçam pra ele,
talvez o fantasiem de palhaço
que desgraça ele anda ele atinge a praça ele escreve versos: 
amor nunca tive & o que não tive me deixou
& blablablá vivo a me mudar em cima do meu sofá & blablablablá 
& cita um vivo: um renomado, outro esquecido & depois até que é inteligente
mas OLHA não honesto: os honestos não saem bem na foto, e os que não saem bem
bem bem bem bem estes vão para o céu com Hölderlin &
só finja e finja mais um pouco como quem finge
quem finge na reta final o gozo o açúcar o perdão
vai remoendo circulando finja!
um verso palavrinha palavrinha vai dando
um poema! redija na forma mais altiva
e o chupe o chupe como pirulito
deixe ali
no canto não
com os cacos de vidro & eu não
eu não mastigo de boca fechada &
é, ele faz uma jocosidade qualquer &
lambendo um pirulito redondinho
e vermelho como o botão do fim do mundo
nessa rodada: duplo cowboy!
vamos gastar mais umas árvores? vamos!
pirulito gozado só gira na boca do mais certo
mas o que é o mais certo?
é o capaz rapaz que articula dez palavras
num só girar de dígitos
teclados bancários & afins
palmas para ele!
atravessando bits um efeito despedaço
bateu as asas levantou voo, voou?
estampado numa notícia: quem acreditou?
escrevam poemas como o alucinado fantasiado de anjo
que subiu no carrossel e disse: a mesquinhez
é o algodão doce dessa festa!
& nesses murais & nas bancas de jornais & as vitrines coisas & tais
só os legitimados! só os legitimados! circulando circulando
carimbados como touros! os passaportes!
sucesso & cana de açúcar para todos
andy dizia: forever não: cinco minutos de fama & eu direi:
cinco segundos a mais na cama, por favor & eu direi:
aos destroçados: façam mais!
as farmácias estão vendendo drogas com efeitos mais poderosos
enquanto a indústria diz eu curo & o poeta diz ai que escuro! & diz:
& diz & diz & diz & diz
a mesa do café está posta 
a rainha que não há não foi deposta & toda a vidinha blablablá
sou tão especial & escrevam
pra que ela — a vidinha — não seja exposta
& pra que a ternura! ah! a ternura pelo menos
a ternura! tenha resposta
mas o que você pode prometer? em troca?
te escrevo sobre aquilo te prometo ligar com os certos te prometo
ai me dá um pouquinho do seu fermento
ah um efeitozinho royal flush no coração
ai me poupe isso eu não faço não
enquanto as farmácias vendem drogas mais convincentes
escrevam poemas, é uma farra! é uma festa! é uma sexta! 
escrevam poemas como quem vende pirulitos.

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