domingo, 30 de outubro de 2016

desde 1984 é a primeira vez
que eu me sento
onde o corpo expande 10 metros
antes ainda do pensamento
os gigantes não me assustam mais


também conhecida como a mulher
polvo gameleira
ela resolve descansar
para isso passa os dias enviando convites

como já não sabe mais escrever
quando ela se senta ela escreve
sobre o tempo em que se sente
o tempo todo agitada
como se a habitasse
outra encadeada
grande sorte
arrebentar-se-á até as estruturas
sem partir um osso
te desconcentrar

de lamúrias e desistências
camisas e gatilhos
as relações estão cheias

fui reler o que escrevi 10 anos atrás.
era interessante essa época
eu passava o tempo
a explicar o que os textos faziam.
e isto me ensinou a dedilhar
como uma harpa uma faca um cardume
não são a mesma coisa
mas são.

passo o domingo a ler poetas
cujos nomes não sei pronunciar em voz alta
mas cada uma das letras que eles grafaram
eles escreveram para mim
remetidas e atrevidas
como estas, eu
são para ti

quando eu irremediavelmente
me perdi
nascendo
tempo verbal contínuo
que exige um eu

o eu toma ar
o eu recua dez passos
o fôlego respira como uma bandeira branca
que instaurasse
o salário diário de 7.000 fotões & 0 rancores
entre os intermediários
que nos levam e trazem
oxigênio, e-mails e sensações

pois eu me esqueci de tudo
que era sabedoria eu já não tinha
e eu aprendi
embora todo o universo
se alimente das trocas de mensagens
é mais difícil decifrar suas consequências
do que ler nos gestos
de aborígenes dançando
o ritmo dos corvos
a língua do futuro nos céus

eu visitei
a língua do futuro nos céus
e voltei para ver o Pacífico
e ele era como o Atlântico.
nós viemos dele

sempre na origem
sinto-me uma raiz de gengibre
e já nos aconteceu antes.
a minha letra mudou.

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