sábado, 21 de abril de 2012

equipamentos, imaginações, massagens e outras motrizes

quando era pequena a coisa que eu mais gostava de fazer era imaginar.
logo percebi que o tempo passava mais rápido e utilizei toda a escola o recurso de desviar do rumor das salas de aula e estar e fazer em outro lugar.

mas nem só de imobilidade se viaja,

e menor entretinha as coisas ao redor em instrumentos, por exemplo: a bicicleta ergonométrica que vivia no meu quarto desde que havia ficado comprovado que ninguém nunca a usava, e sobrada do resto da casa, a bicicleta estática era o meu cavalo,

a primeira história que escrevi tinha um cavalo de uma menina chamada joana, que era como eu queria me chamar, não porque a jojô vizinha se chamasse assim, mas porque a cor do nome era vinho, terrosa,

tudo isso eu não percebia na altura. minha cor preferida era azul e era verde. é como falar "ele é meu melhor amigo", quer dizer, eu tenho uns 12 e eles são a fortaleza.

*

hoje é a palavra que mais aparece no livro que estou quase pra começar a terminar: cavalo.

*

talvez eu esteja conseguindo só a oscilação das coisas, de tanto que me esforço pra ater o ritmo das vibrações, como uma asa de borboleta ou pata de cão que pisa um trevo de quatro
flores no chão.

ou esteja desesperadamente ocupando as palavras antes de viver um treco que se chama poesia,

que segundo jean luc nancy existe. um amigo me contou de uma amiga que dorme com um ET. 

durmo de mãos atadas
acordo de mãos furadas
me deito e é domingo
(domingo é o dia universal das saudades do brasil)

*

acho que muito antes de escrever minha mãe fazia de psicanalista dela. ou ouvido, em certo sentido, funil. com seis anos eu sabia tudo que deveria saber da memória da minha família e deve ser por isto que até hoje o pântano é grosso, escaldado

foi tipo tomar biotônico fontoura.

*

uns dois anos atrás, na casa da minha avó, em cima de um móvel onde só há fotografias, lado a lado: meu avô, foto de posse, reitor, catedrático, - - do lado eu, com sete anos, foto de passaporte (o passaporte que fizeram pra me trazer pra portugal) moleton roxinho e franjinha na altura das sombrancelhas, cabelo liso e comprido. passei reto, quando voltei, os olhos. os o-lh-os, não o desenho. o jeito das órbitas oculares, o mesmo, no meu avô e em mim.

senti um medo desgraçado. um orgulho misturado, do ímpeto.
e hoje em dia quando me apaixono pelo que acredito (antes não acontecia), entendo ele tanto, e sei que corro o risco de um dia me equivocar por fascínio.

*

na beira da piscina minha mãe pedia pra eu apertar os ombros dela, soltar os laços do pescoço com as costas. não sei dizer, mas só hoje, ainda massageando quem amo, entendi que não era possível, nem era uma régua, nem uma montanha, aquilo de duro que havia no meio da pele tão leve e macia. era minha mãe.

e, imaginando como tudo era, só agora começo a ler o corpo dela.

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