terça-feira, 9 de abril de 2013

véspera I

inicio este blogue pensando se terei que criar outro quando isto terminar. olho no relógio e é exatamente 00:00. de quarta-feira, 10 de abril de 2013. e vim aqui escrever para dizer que o descontrole é que atravessa 60 segundos até às 00:01. não é o desespero. é a regra de medir a medida. a cada dia que saturno se aproxima o descontrole pra mim é medir a medida. 

na verdade, amanhã (que é hoje) é o dia que chega o livro que passei três anos trabalhando nele, falando dele aqui. foi por isso que vim escrever alguma coisa. não é bem um relato isso, é uma transmissão de tensão. a carolina sonhou que as capas chegavam corrigidas pela gráfica, que assim tinham estragado tudo. e depois eu tive meu telemóvel roubado, mas ele estava dentro do bolso do meu casaco de couro vermelho que comprei na c&a de paris e está escrito cindy crawford na etiqueta dentro dele.

tudo isso me faz retornar ao livro. que não é o primeiro nem o último livro do mundo (nem o meu). passei algum tempo pensando que meu segundo livro teria a capa branca, e não é que ele quase-tem? e eu não calculei isso, era o papel que a gráfica tinha. também sabia que iria publicar meu segundo livro em Portugal, mas não imaginava que a situação econômica, emocional e política desse país fosse estar em um momento tão calamitoso como está. 

muita gente já viveu esse momento, de esperar pelo próprio livro no dia seguinte. não me lembro de como foi que esperei o "cantos de estima", nem onde eu estava quando ele chegou. acho que meu pai foi pegar na gráfica em Moema, que eu estava montando a exposição dos 12 exemplares. e ah! eu tenho medo de dirigir. e mais dificuldade em digerir alimentos do que remorsos. ou não, depende.

sei que naquele tempo eu já gostava de escrever assim, de ímpeto. e que o treino vai criando ritmo ao ímpeto. é como voltar e encontrar a casa aberta cheia de velas acesas velando só a noite do coração quente. isso como se existisse uma lareira em toda casa em que eu viver. a sorte da minha editora ser minha melhor amiga. e vice-versa. 

entre o primeiro poema que escrevi para este novo livro e a invenção de seu título passaram seis meses. mas foi o contrário: primeiro eu tive o título: "poemas do destino do mar". lembro que eu ainda vivia na travessa de santa quitéria, onde hoje mora a érica, e na valentine vermelha mais vermelha do que a bandeira chinesa, e num papel de seda branco escrevi um poema que falava da limpeza, dos restos, do estômago. era um poema que não valia nada. n a d a. mas na última linha dele escrevi em caixa-alta POEMAS DO DESTINO DO MAR. 

então percebi que ali o futuro havia falado por mim no papel. no papel dele mesmo, futuro, estrelando o sempre presente. e peguei o rabo do cometa, pensei: é o título do meu livro. então se passaram meses que foram a morte da minha chegada, quer dizer, foram a morte dos motivos pelos quais eu sonhava em vir pra cá: a mesma língua em estrangeira, uma paixão motriz e galopante e distante, recuar são paulo, a família, a exorbitante convivência entre os entes. e tive que ir morrendo aos poucos até ser o dia de escrever o poema I, que como me prometi desde aquele momento: que eu nunca o reproduziria em qualquer outro sítio que não fosse o primeiro poema dos "poemas do destino do mar". então, se tá afim, so sorry, arranja um livro dos que chega amanhã e lê.

mas ei ei ei isso faz muito tempo! foi como se uma retroescavadeira abrisse um canyon de células no meu corpo. está tudo tão diferente que eu só posso dizer: que terminei o livro, que o livro chega amanhã, que sábado é o lançamento, e que meus pais vão estar presentes, e que tenho muita gratidão a eles, aos meus amigos, aos meus bichos, às plantas,... espero também ter a cada dia mais dedicação também. não só ao meu trabalho (que é uma forma íntima de me dedicar aos outros), mas a eles mesmo. sou tão bruta. nem sei porque estou falando disso, já que a ideia era escrever sobre o livro e até mesmo AH ATÉ MESMO pensar em falar mal dos currículos eu já pensei.

tipo eu quero que se foda. o que eu quero é o amor. 

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