quarta-feira, 8 de julho de 2015

urano |_ sol

a vida é isso: você vinha correndo desenfreadamente daí reparou que era preciso lutar contra o ritmo dessa cidade um pouco então: intervalar os encontros os trabalhos. passaram as maiores responsabilidades e antes delas acabarem no meio do furacão você teve uma gripe tão horrorosa que um arco-íris seria pouco pra contar as cores que te saíram do meio do nariz. no meio disso uma experiência mística em uma religião que não tem nada a ver com você. sonhos que enterrariam um avô já morto.

então você melhora quando volta pra casa, você já está em casa. outra maratona de dias. passada ela você pensa assim: vou fazer aquilo que eu mais quero: terminar meu livro. escreve-se desenfreadamente. chega na hora de dormir você não dorme você tem a bexiga cheia. daí escreve-se desenfreadamente e você pensa "também vou aproveitar pra descansar, eu vou voltar (sem voltar atrás) e vou repensar todo o ritmo da minha respiração." então você não se sente doente você se sente feliz as pessoas ao teu redor todas brilham são teus melhores amigos desde outras duzentas gerações. nisso tua melhor amiga te ensina que aprendeu que a palavra "obrigado" significa o que tem dentro de todo "ob" manter nesta circunferência. "observar", p. ex., "manter em observação"; "obrigado": "manter em estado de graça". você pensa: nada me interessa mais do que manter algo em estado de graça: estou obrigada.

você precisou interromper um processo muito intenso devido a grande intensidade do estado de graça místico que é viver. sentiu-se furiosamente triste e furiosamente feliz. sou cinquenta sou cento e cincoenta etc. todos os gatos te sorriem e você pensa assim: "taí, tem um cachorro sempre me acompanhando". mas ele não está lá. então você embarca furiosamente numa espécie de transe da lucidez até que você não aguenta mais entender tudo tão rapidamente e fecha a porta e conhece a morte então você abre a porta e por ela entram todos os seus vícios. minha amiga que é xamã me disse isso uma vez: você abre a porta pra um vício, entram todos. não, não vou te contar quais são meus vícios.

a sensibilidade? um dos treinos, um treino nunca é um vício. me impressionou muito no documentário da nina simone ela dizer que nunca pensou a vida em termos de escolha. isso parte teu coração assim como quando você consegue começar a dizer tudo na primeira pessoa. na primeira pessoa do singular, outro treino. mas você não consegue. ainda bem. imagine ter o coração partido a cada minuto. você não consegue parar embora você saiba que você precisa porque afinal essa velocidade toda é só uma impressão de ótica, um olhar uraniano sobre a realidade. você sabe que urano em áries na tua vida é como se o primo do interior viesse de botas sujas de bosta de vaca cheias de capins novíssimos pisados e sempre capazes de germinar uma faísca de germinar um incêndio de novidade. e esse teu primo coloca os pés em cima da mesa, da tua mesa de trabalho, aquele seu trabalho de sempre passo a passo está lá com seu primo do interior dançando feito o fred astaire dançaria o "on the corner" do miles davis.

esse teu primo vai se hospedar por aqui coisa de um ano e meio. ele acabou de chegar. "eu preciso descansar pra que esse primo não me derrube", você pensa, então você para de pensar por que o que é pensar? ah! você faz, afinal, você "nasceu" pra fazer. e você faz as coisas com um cão de um lado, um cão ateu, e do outro lado esse primo puxa teu cabelo porque quer brincar de cavalinho com você. ele já está saltando nas suas costas. pensando bem você até gosta. pensando bem eu até gosto. então você se anima com tudo e sente a necessidade de pular na jugular do primeiro que aparecer e dizer NEM VEM mas você sempre gostou de dizer NU VEM. então você pensa eu vou dormir porque eu finalmente posso eu vou acabar o meu livro porque finalmente é preciso e faço. e faço. e faço.

então você não consegue dormir de tanta dor no rim esquerdo, rola pra um lado, rola pro outro, a cabeça dispara então você se levanta, coloca um livro na mochila, pede um taxi por um aplicativo e vai às 4h da manhã pro hospital com dor no rim esquerdo. você vai sozinha, você só avisa alguém de que está lá às 8h da manhã, você passa 5 horas no hospital mas não vai acordar ninguém, afinal você nem pensa nisso, só repara depois voltando pra casa, você cresceu e está doendo mas também não é pra tanto, marte nem chegou ainda, ele só vem no fim do mês. depois de cinco horas detectam uma infecção mas te dizem que é na bexiga só, que o rim foi um devaneio, uma ansiedade, uma paranóia.

então você se pergunta por que você sempre sente os sintomas? os sintomas de tudo, os sintomas do mundo: antes? deve ser por isso o constante aviso: quando a água se agita demais no profundo, minha filha não se segura: terremoto: aprende a voar. e agora é isso, aprender a voar, não romper os tendões de Aquiles como sugere a bula do remédio. ok, uma semana, uma semana compromissada a estar flanando num sofá.

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