sábado, 24 de setembro de 2016

quando hoje contornei com as mãos o livro que me deste
em que cada poema escolhido pelo amigo que te abençoou
todo sublinhado pelo teu pensamento que respira
de modo que falamos a mesma língua
onde tudo nela dia a dia intensidade
os planos e os plenos da memória
ou cada um dos sítios
os cantos moídos das páginas
que atravessaram malas e foram carregados
pelas mãos, os braços pousados
no colo ou na mesa de almoço, da biblioteca
e eu, que tão rapidamente coloquei o nome nele,
embora desconheça a luz da manhã do gabinete
reconheço a mancha na capa
os riscos de uma chave
ou o dia em que ele quase se foi
esquecido num banco de comboio
como em abraços engoliu o lápis que o grifava
e se escondeu entre almofadas
que eu desconheço
desconheço o dom de desaparecer
embora possa me fingir discreta
como uma planta
tendo à luminosidade
e não compreendo a angústia
que estes dias têm
por objetivo próprio
oculto ou revolucionário
me enlaçado
como a um objeto
todo rasurado por gestos
cheios de memória
que embora fossem
não eram meus e nem são
os que eu teria
e, no entanto,
tem tanto a ensinar

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