quando hoje contornei com as mãos o livro que me deste
 em que cada poema escolhido pelo amigo que te abençoou
 todo sublinhado pelo teu pensamento que respira
 de modo que falamos a mesma língua 
 onde tudo nela dia a dia intensidade
 os planos e os plenos da memória
 ou cada um dos sítios
 os cantos moídos das páginas
 que atravessaram malas e foram carregados 
 pelas mãos, os braços pousados 
 no colo ou na mesa de almoço, da biblioteca
 e eu, que tão rapidamente coloquei o nome nele,
 embora desconheça a luz da manhã do gabinete
 reconheço a mancha na capa
 os riscos de uma chave
 ou o dia em que ele quase se foi
 esquecido num banco de comboio
 como em abraços engoliu o lápis que o grifava 
 e se escondeu entre almofadas 
 que eu desconheço
 desconheço o dom de desaparecer
 embora possa me fingir discreta
 como uma planta
 tendo à luminosidade
 e não compreendo a angústia
 que estes dias têm
 por objetivo próprio
 oculto ou revolucionário
 me enlaçado
 como a um objeto
 todo rasurado por gestos
 cheios de memória
 que embora fossem 
 não eram meus e nem são
 os que eu teria
 e, no entanto,
 tem tanto a ensinar
sábado, 24 de setembro de 2016
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