quinta-feira, 28 de julho de 2011

hoje quinta-feira é meu domingo

há tanta gente para ver e aproximar o umbigo
mas hoje nem que seja por incêndio me chamam de casa.

talvez daqui 25 anos apareça alguém que entenda completamente
que o vento que roseta a dispersão da roupa

porque parece que gira por acaso, num varal meu lençol
mas eu sei que é mentira que ele gira perfeito só que prolixo
como todo acaso: perfeito só que prolixo.

preferiram os envergonhados o silêncio das roupas num varal
ou também os avaros dizer duas vezes, não mais.
eu talvez me meta em polêmicas maiores na próxima década
ou já estamos nela?

sei que é preciso correr em direção daquilo, daqueles 
que me contam que viver é um risco, afirmativo 
e as saudades que eu tenho do marcos.

o importante é saber não escrever e notar o vento nas roupas de ninguém.
falar com as roupas e com os cavalos e de vez em quando comprar um kit kat na máquina do metrô pra lembrar que isto aqui é europa
também de manhã cedo ou às vezes tarde bebo meu café numa xávena em que se lê
LISBOA e um coração - como é que se lê um coração?

minha mãe está no méxico meu pai está no chile, meu irmão em conakry, o outro em taiwan.
eu leio um livro do miguel do século XVI o Itinerário do António Tenreiro, quando quero aproveitar. então lembro do Diderot, quero juntar dois séculos depois, falando de modos e costumes. esses homens que se preocupam com a etiqueta do alheio, temo todos nós nos tornarmos isto. o Ranciére diz em alguma parte que é o escritor arqueólogo o dos romances do século XIX.

a vida fica toda suando 40 graus neste fim de julho. os livros estão sempre mornos, não importa a estação. e só andam se eles nos lêem. meu pai sempre diz isso, que os grandes livros nos lêem, não o contrário. meu pai está sempre preocupado com o que é grande. meu pai, grande homem de solidão infinita, me educou para ser grega com ele. eu vejo os aviõezinhos passarem,  o manoel contou  a gente riu da constatação que são invocados, os aviões. eu os vejo voarem rasgarem e procuro o século XXI entre as roupas que ainda não lavei.

talvez esta pomba valesse o mesmo que tudo. deve ser isso que se queria dizer o meu século, e eu não entendi, e a espantei. 

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