terça-feira, 22 de novembro de 2011

solidão é algo que nunca me faltou.

mas é bem louco, às vezes o jeito de eu me sustentar ao lado dele é começar a escrever poemas pro vento. é. começo a cantar tudo o que está ao meu redor e é claro que isto organiza a minha relação com as coisas ao redor. tipo sábado de manhã eu vou até a varanda e digo pra mim mesma versos que falam da gaivota no teto do vizinho, o carro lá embaixo passa como um rasgo de papel, dois guardadores de carro que brigam pelas coisas mais deles, agarrados em heroína que são. de tão absurdas. o lixo nos contentores.

é como se o vento atravessasse meus lábios em dizer, eu acho muito bonito. também como é puro desperdício, poemas que eu nunca mais vou me lembrar. ao ponto de ter certeza que eles são a dicção exata, é neles que está, justamente, a grande obra que estou escrevendo. vida, vida. é só isso.

no mais, anoiteceu e a gente ainda estava no topo da montanha. foi muita muita emoção real, adrenalina, escuro! e camaradagem mútua, seguramos completamente os riscos, toureamos a noite sem lua e encontramos a saída, com muita sorte e intuição, também. sorte forte de, por exemplo, muitas pedras dos caminhos serem de calcário, isto é, brancas, reluziam mais do que o barro e nos diziam "por aqui".

foi lindo. na hora que chegamos lá embaixo no vale caímos num bosque de pinheiros, muito mais escuro. mas seguimos em frente, em frente, corujas saltavam dos galhos, e nós andávamos, andávamos. quando saímos do bosque chegamos no vale propriamente dito. dito e vasto, um pasto sobre os nossos pés e a noite de muitas estrelas no céu. foi das coisas mais bonitas que já vi na minha vida.

também porque combinada com a sensação de êxito. o problema real era descer a montanha (e não subi-la!), ali no pasto já era certo que chegaríamos ao carro. ao encontrarmos o asfalto demos nele um beijo, não em nós, não, no asfalto mesmo. "feito o papa".

quando eu disse que pra além de sermos peixes cuja água era o mato, nosso caminho era iniciático, ele se derreteu em ternura.

é meu.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter