sexta-feira, 20 de abril de 2012

tão paciente quanto voraz

Assustada sigo com os rumores
das saídas escuto as paredes
faço escudos quando só consigo
me abrir pro ritmo das coisas.

Atenção
o homem inventou o avião
a dança e a caça
e pensa em, dia desses, alicerçar o sol.

No entanto as plantas continuam mudas
e o ferro se roça todo por dentro do betão
se expande e espraia, a matéria
tem ritmos diferentes
e o atrito faz desarmar o concreto
armado em questão
de menos de um século .

Com a sua pá e as chaves
de nada o tempo abdica
a tudo o tempo esfarela.
Nós é que não temos velocidade pra ver
desaparecer a casa, as frutas, os limos
onde o passado e o futuro se dão
as mãos entregando à ruína, um instante
tudo, estudo, és tudo em transformação.

O mundo não é sólido,
meu bem, o edifício também.
Entre eles, considero o enorme chão.
Ossos na leva: areia de lava com água que lava,
foi o primeiro modo de fazer concreto do mundo.

Dia a dia, serás meu e misturarás o pó dos teus ossos com o pó dos meus.
O fogo afinal amacia o ferro e forma a ligadura da costela.
Tão paciente quanto voraz
enverga comigo, pra durar
a arma, amante
abraça comigo
o coração sem centro.

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