sexta-feira, 15 de maio de 2015

blue like my pillow

às vezes bem perto
de dormir enquanto leio
qualquer coisa
sinto os ossos da face
também os das mãos
na minha pequenez
imagino longe estão
os outros planetas
e que acaso absurdo
permite acontecer a primavera
um livro uma gruta uma pessoa
lendo antes de dormir
e mesmo dormir!
que inteligência da matéria é o descanso
e que necessário prover.
há mundos feitos de gases
outros são tão longe do sol
nem deve haver luz
se você quer ir para o centro da galáxia
partindo daqui siga em flecha
até Sagitário no céu
dizem que lá há um buraco negro
que condensa ou traga transforma ou anula
tudo que existe
que acaso permite aqui eu sem ser
parede de buraco
rede de meteoros
nem sei.
depois quando fecho o livro
angustiada já a pequenez
o ínfimo na jugular do tempo
pulsante tenho o pensamento
na morte não como um norte
mas indefensável rigor
não uma saída
um não sei que que não sei
e me angustia como a existência
de outros planetas e esse acaso da espécie
não ter nascido macaco nem maçã
ser supernova enquanto metáfora
conhecer garfo metáfora e triângulo
acreditar em linhas retas mesmo sabendo que elas não existem
e estar aqui
com medo de cair do galho
render a ser
adubo
ou mais: os outros serem também
acasos planetários
e eles também vão partir
e antes estarei só
com a cabeça num travesseiro
sem me perguntar por nada
que não tenha o nome de futuro
que não se chame o cotidiano
desbravar do acaso
lume e rumo?
água, por favor.


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