sábado, 30 de maio de 2015

A primeira vez que escrevi a palavra “muito”
foi meu irmão que me ensinou
eu não acreditei. Tinha certeza de que era mentira.
Faltava um som, um som fundamental. Mas acabei
acabei acreditando.
Faz parte ter de acreditar.
Agora quando escrevo “muito” percebo que a letra está mudando.
Eu não tinha esse “t”
assim
tão pouco tenso.
Não atraso a hora das plantas
deixo as ramagens invadirem os portões.
Agora vivo acendendo incenso
pra qualquer córrego vagabundo
se chamar deus
eu peço um pouco de atenção
quando alguém está comendo eu tiro o talher
da mão enfio na testa.
Tem muito “t” nessa língua
não dá pra viver sem eles.
Eu tinha um “t” que me estruturava
me ajudava tanto aquele “T”
agora tenho três “t” diferentes
conforme cada encontro de letra.
Ainda vão dizer que me rebusquei
só por conta do “t” trifurcado
foi que eu me perdi.

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