Ver assim: a escrita é uma passagem: a gente deixa passar: dizer: eu estava no ônibus uns dias atrás, voltando desesperadamente para casa, o quanto eu precisava de casa. E na autoestrada, vi bem de noite, na margem contrária, uma menina (desconfio) andando toda encapuzada, sozinha, no acostamento do outro lado. Ela parecia ter em frente um farol, embora estivesse, discretíssima no escuro fazendo da estrada a sua linha reta, como se mudasse de cidade no escuro, ou atravessasse um período de necessária solidão,
ou fartou-se do carro e foi adiante como vamos: com os pés. Era ela uma
guardiã da noite, muito de longe, eu passando ao contrário e em outra
velocidade, me peguei pensando que talvez talvez ela tivesse
desmontado o porta-malas de um carro e aquela mochila que ela levava nas
costas era, profundamente, o seu próprio escondido. Tinham dezenas de
olhos que olhavam para o seu escondido, mas todos estavam cegos.
Profundamente auxiliadores. Eu a vi por menos de cinco segundos e hoje
ainda me lembro perfeitamente de como admirei sua audácia e torci pela
sua segurança. Não sei quem ela era, talvez a perdição que ela se meteu
me desfizesse irremediavelmente o ser quem sou, talvez o acaso que a
colocou naquela estrada nunca pudesse ser o meu, porém tive certeza que
sua indescritível fé no ir adiante nos tornaria, para sempre, irmãs de
rumo e luz. Isto sem falar no belo capuz.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
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