domingo, 15 de novembro de 2015

for a thousand years

os familiares ao redor
fazem grupos de chats
em duas ocasiões:
morte de parentes
atentados terroristas

fazermos em ocasiões
menos mórbidas
significaria perder espaço
o espaço das nuvens
névoas garças

em ferragens desenhada
a linha cartesiana
que foi traçada
digo, barthesiana
em nossos berços
a liga católica
quero dizer
iluminista errei
eparrei! a macumba
minto a filosofia
dos ateus perdão
a pátria não é problema
tem pra todos
nesse panteão
de ninguém

*

como prova de fé
no que virá
eu tive que depositar
lentes de contato de ferro
num pote oxidado
enquanto dormia

eu que não uso óculos
que enxergo tão bem
tendo que arrumar os olhos
como quem limpa
a prataria
pra ver no reflexo

foram dias de desova
quando morreram
todos os peixes
de duzentos rios
comeram metal

eram dias de certezas
mataram os vivos
em duzentos países
com chumbo grosso

chamado balística
digo, bolsa de valores
minto, fundão da escória
bobagem, inércia

o ocidente está desolado
o oriente está desolado
no cérebro
no aeroporto
na recepção
o hemisfério está descolado
o corpo está enterrado
os pólos não param
de girar

o mundo
um buraco
grande

o mundo
este município chamado buraco grande
engoliu-se e se vomitou todo, cansado
e por baixo da terra, cantando
o mundo

uma lavadeira clarividente
na beira da água
batendo roupa
que de tanto bater
começou a dar em visões
de um grande amor
vindo do futuro
só pra nos dizer:

o nada está entre vocês
e por vocês
reiificado: o nada
está.

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