É preciso recriar o acontecer. 
Dispor de lãs para o inverno
ouvidos para as mensagens 
e peles para marcar os sinais
com a ponta do dedo em brasa.
É preciso saber 
as regras dos jogos 
como extrair os venenos 
e que palavras abrem portas 
nas orações que ainda não foram compostas. 
É preciso retomar a saída da cidade 
alimentar os estrangeiros chegados na madrugada
e que depois de terem os pés lavados
acenderam suas fogueiras. 
Fornecemos mais do que gravetos e faíscas em gel
mas também papel para que ardessem 
ou escrevessem as técnicas de suas civilizações 
nas quais o vento tem outros significados
pois as asas de seus deuses batem desde o oeste 
e por aqui todos sabem que os deuses vem da América do Sul. 
Os estrangeiros às vezes têm ideias estúpidas
mas não vamos protegê-los de si mesmos
preciso é retirá-los de perto da falésia 
para que não caiam nem decidam partir.
É preciso dar a eles a agricultura 
pois são o ventre deste país
embora não saibam trazer a chuva 
pelo menos respeitam as pragas 
e evitam as devastações. 
É preciso aquecer os músculos e hidratar a garganta 
dar escudos duros e afiar as lanças dos que combatem
protegendo as pedras que dão água.
É preciso não salvar os mortos 
mas limpar as ruínas de suas guerras 
sem arrancar as ervas daninhas.
É preciso fornecer plantas para a sombra
e luzes no lugar dos olhos 
daqueles que perderam a cabeça.
É preciso acolher os feridos
e deitar sal e cinzas 
nos seus ferimentos.
É preciso acalmá-los. 
E acalmá-los é dar guarida ao breu em que estão. 
- - -
de "Seiva, veneno ou fruto", a sair nos próximos meses pela Chão da Feira.
domingo, 27 de dezembro de 2015
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