terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

oi, alforria
não me esqueci não de você 
viu
já volto
querido

sábado, 13 de fevereiro de 2016

que meu avô, dizem, era meio bruxo, era coisa que eu já sabia desde antes de nascer, que procurou isso tanto quanto o acaso lhe deu.

mas foi só uns dias atrás que ouvi uma história sobre uma margem em curva do rio Piracicaba onde houve uma matança tão grande entre diferentes bandeirantes que disputavam índios e terras e tudo que traziam que mataram-se uns aos outros mais de uma centena de homens.

tanto sangue sem dó houve lá que se dizia daquele lugar que era amaldiçoado. que, passados tantos séculos, vozes gritavam de madrugada ainda pedindo por salvação e luta. que o vento ali zunia tanto que uma pessoa era capaz de perder os sentidos se lá ficasse muito tempo. a começar pela audição. dizia-se de lá também que os capins tinham faces de espinhos e sibilavam nas pernas de quem lá entrava. até as plantas deitavam sangue.

meu avô foi lá passar quatro vezes as noites. sozinho no escuro fazia das suas. não tinha medo? de nada, é o que me respondem os que o conheceram. ali trazia como escudo os gestos da paz. negociava, intermediava, fazia caminhos e traçava limites. tudo, tudo com as mãos, as palavras e os gestos. ou isso sou eu que imagino. aquele mato denso e escuro e ele se confundindo com as folhas pra poder pelo poder transformar poder. mas ele nunca explicou pra ninguém, nem fazia muito alarde.

então um dia meu avô chegou em casa e disse para o meu pai "pronto, sossegou, 'tão em paz. não tenho mais que voltar lá". e nunca mais voltou.
 

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