Levo com ternura as coisas preciosas que você me entregou
 como as desconhecia não sei bem de que material são feitas 
 madrepérola barquinho de papel carne e passado 
 onde as colocar se nem cabem nos armários que divido
 com o mundo as misturarei
 no barro levado pelas enxurradas
 asas para voar nos dias sem horizonte
 um punhal para abrir a correspondência 
 eu carrego junto ao peito feito amuleto 
 amaciando os joelhos os tijolos sem metafísica estalam
 as estruturas na esperança de que tudo estará desencontrado 
 e um travesseiro deita o meu pescoço no teu esquecimento
 há embriaguez para as noites sem fumo
 para as noites de lua todas as canções
 dos compositores de destinos eu sopro
 as melodias no vento que desce a rua
 o vento em que me torno para te ensurdecer 
 me enovela me envolve e me acolhe
 feito uma capa para os dias nublados 
 o sol volta a esquentar a nuca dos gatos
 no parapeito da janela uma vontade de nunca mais
 rodar as engrenagens que rodam as folhinhas dos calendários 
 já não se usam mais a não ser em alguma parte
 onde também o nosso amor insiste 
 aberto pela temporada de chuvas
 fechado sempre que é primavera.
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
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Um comentário:
Li no livro.
Vim aqui te dizer que guardei-o num armário especial.
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