domingo, 12 de fevereiro de 2017

atualmente nos dias que quero descansar eu os passo reescrevendo os poemas do novo livro que não estou escrevendo e encontro uns versos tão inesperadamente cafonas como:

"o vácuo túnel disto denso dista inúmero número"
"onde é misturado nas línguas ondas salinas"
"você poderá mastigar o nada pois o tivemos em comum"


exagerados versos, como eu os esperei voltarem

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engraçado, me lembro de bem criança olhar demoradamente os objetos que a minha mãe e também a minha avó guardavam em cima de suas cômodas, objetos tão diferentes, gostos e casas tão diferentes, num mesmo gesto em comum. eu passava imenso tempo a pegar neles, a observá-los como desconhecidos e pequenos exageros cheios de enigmas cores e desejos que os faziam ser relíquias para quem os guardava. minha mãe a minha avó, que tinham coisas que eu não sabia como entender o que teriam exatamente de bonito pra elas, mas que, justamente, por serem apreciados tornavam-se inesquecíveis pertences ligados ao afeto e (só hoje penso) tão próximos de uma cama, eróticos, como não? associo alguns dos versos que ando escrevendo a esses objetos.

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estou contente de estarmos em 2017 neste ano que — ainda é fevereiro — já me alterou horizontes levou pessoas, isto sem falar na vida pós-golpe & nuvens de chumbo interstelares vem do subsolo deste país, vem da américa do oriente médio e do lado de lá também não está sendo fácil & vejo que estou escrevendo um livro sem respostas pra este tempo amargo presente - - - ou isto ou ele se passa no duradouro de todos os tempos no tempo: o amor & assim em todos os poemas se encenam os desejos de um corpo de mulher que, como todo corpo, se expressa como bem entender.

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