sonhei que as esquerdas faziam um movimento pra que o enorme monumento às bandeiras (o “deixa que eu empurro”) que fica na frente do ibirapuera fosse retirado dali.
eu ajudava a fazer um cartaz enorme com a frase tão culta de WB que “todo monumento de cultura é um monumento de barbárie”. ficava orgulhosa, me sentia completa de sentido, finalmente. conforme o tempo passava um clima de exorcismo começava a pairar no ar. eu me preocupava, mas já não havia como sair da engrenagem daquilo tudo.
de repente uma grande festa: havíamos vencido, podíamos fazer o que quiséssemos com o monumento às bandeiras.
quando finalmente conseguiam retirar o monumento ele era levado pra costa litorânea por um caminhão gigantesco e acompanhado por milhares de pessoas descendo a serra a pé. os ânimos se animavam e as fúrias também. algumas pessoas se metamorfoseavam em cavalos, a noite caía e alguns cavalos eram incendiados pra fazer luz no caminho.
eu lia num cartaz: “sem barbárie não chegaremos lá”. não sabia se era o caso de concordar ou não. ao chegar na beira da praia eu percebia nas expectativas das pessoas que queriam fazer da estátua de pedra um navio navegável. achava aquilo completamente sem sentido, mas já só podia, mesmo, observar.
começava a ver cartazes dizendo “deixa que eu empurro vai nos levar por mar”. eu pensava “mas levar onde?”. e alguém gritava “morte! morte! quando matarmos todos os fascistas e seus ícones vamos chegar no futuro”. futuro?
finalmente um guindaste gigantesco colocava o monumento às bandeiras em cima do oceano. quando o trambolho de pedra afundava as milhares de pessoas choravam convulsivamente, surpresas que a pedra afundasse quando colocada em cima da água. agora que afundou, alguém me dizia: “temos que escolher novos inimigos”, tirava uma espada da cintura e cortava a cabeça da pessoa ao lado.
depois eu via na televisão que a prefeitura tinha colocado o Borba Gato no lugar do deixa-que-eu-empurro.
*
noves fora, que asfixia, gente.